Te vejo a noite...

Te vejo a noite...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A eterna busca pelo Ágape. O profano anda lado a lado com o sagrado, Etérea vai até as últimas consequências para ir em busca da centelha divina...





Etérea, o anjo caído.
Mia Hertz.

Encontrava-me perdida no olho da tormenta. Os elementos da natureza açoitavam o meu corpo e o meu ser.
Vejo-me em busca de uma guarida onde eu pudesse finalmente descansar e quem sabe encontrar a tão almejada paz.
Continuo andando caindo cada vez mais no torvelinho que me envolve. Os raios laceram a minha pele e os trovões ribombam em meus tímpanos.
As minhas asas se encontram rasgadas, molhadas e caídas costas abaixo.
Expulsa do paraíso vago a ermo por terras hostis, um anjo decaído que perdera a tudo e a todos, menos a esperança de encontrar a sua salvação, prosseguindo solitariamente em sua eterna busca.
No horizonte fito a luz longínqua que me atrai.
Cambaleando continuo tropegamente caminhando em busca do lume salvador. E nas vias de acesso, provo do néctar e do fel que me oferecem, sem, no entanto saciar a fome voraz que consome lentamente ao meu intimo.
A tempestade continua me açoitando impelindo-me a seguir cada vez mais em uma viagem por eras desconhecidas e locais tenebrosos.
Orbitas vazia me olham tentando enxergar a minha alma, seres bestiais tentam me prender, desvencilhando de todos eles, prossigo em minha jornada.
Alguns chegam ao meu encalço, machucando e expondo o vazio a qual sua alma se encontra.
Outros conseguem dilaceram nacos dos meus músculos, mas desvencilhando e lutando continuo fugindo de todos eles.
Em alguns momentos, entro em contendas com eles e consigo dilacera-los com as minhas mãos e presas, deixando atrás de mim um rastro de sangue e de carne, eis o meu legado a todos aqueles que me enfrentam.
O percurso é pesado e repleto de miasmas e seres plasmados, os vãos são sombrios e as avenidas escuras, um universo a parte, onde os seus habitantes vivem nos tormentos e convivem com suas dores infinitas.
O aroma fétido e sulfuroso penetra em minha narina, ferindo-as. Entretanto continuo surda aos gritos e lamentos que me atormentam a cada momento.
Sigo em busca do lume, enfrentando a todos e a tudo, principalmente a mim mesma.
Essa eterna fome pela destruição, pelo caótico e pela transformação, que foi a razão da minha queda e também do meu êxito, porque se eu não possuísse essas características Lúcifer teria conseguido destruir as ameias e teria invadido o paraíso.
Perdida em minhas reminiscências e exausta me encontro próxima da guarida da luz, que tanto me inquieta e me chama.
A centelha reluz atraindo-me, clamando pela junção e pela união, o regresso da filha prodiga na moradia do pai bendito.
Estendo a mão em busca do calor tão desejado, quando tentáculos agarram e sujeitam os meus membros e me puxam.
Debatendo, lutando e urrando, batalho contra essa força sobre-humana que me arrasta cada vez mais para perto do lume.
Horrorizada fito ao ser a minha frente, luminoso e belíssimo, entretanto perverso e demoníaco.
Sinto quando ele arranca o meu braço, escuto os músculos sendo rasgado, o osso estralando como se fossem folhas secas sendo esmagadas nas mãos das crianças nas frias tardes de inverno.
Permito que minhas presas surjam e que as garras da minha mão que sobrara apareça.
Lanço-me de encontro ao ser, procurando pela sua jugular, cravo-lhe as presas rasgando a carne adocicada e sinto o poder do seu sangue em meus lábios rachados.
Sugo, conhecendo a sua essência e provando do seu ser.
De um só golpe, lhe enfio a garra externo adentro e retiro o seu coração que ainda morbidamente pulsa na minha mão.
Destroço o seu pescoço, banqueteando-me com sua carne amarga. Destruído e caído aos meus pés, vejo a fragilidade da inútil procura da centelha divina.
Me encosto na gruta, inspiro profundamente, entrego-me ao cansaço de mais uma contenda vazia.
Com a minha garra, abro a minha aorta e deixo o sangue verter.
Purificando o ambiente e ao meu ser. Centelhas de fogo lambem a minha pele, finalmente a paz me acolhe e fito a escuridão que habita no meu ser.
E pela primeira vez, acolho o meu lado sombrio, unidos alcançamos a ágape.



Ficara na responsabilidade dele de recolher o último anjo caído, finalmente ela conseguira a sua redenção, passara por muitas provas e a todas vencera.
Entrando lentamente na sombria gruta, ele busca por ela com o coração aos pulos, após tanto tempo finalmente iria vê-la novamente, o reencontro tinha um sabor doce em seus lábios e no seu ser.
Quando se depara ao cadáver de um ser mutilado e olhando mais a frente...
O arcanjo fita a pequena mulher destroçada que placidamente se encontrava deitada no solo em seu sono mortal, as asas cruzavam o peito como se fosse uma manta que acolhe e protege, a face marmórea refletia a paz dos últimos momentos.
Quando vislumbra em pé, o espirito da criatura angelical que o fita pela ultima vez, antes de abrir os braços e ser sugada para o interior de uma grande luz.






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