Te vejo a noite...

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A inusitada criação de Hera e as suas consequências.... Mais uma crônica de Orion, onde o improvável sempre ocorre!

A criação de Hera!
Mia Hertz.
Crônicas de Orion, vigésimo quinto planetoide de Orion.
1203- Idade do Ouro.

Os ventos açoitavam o solo estéril do planetoide, levantando os minúsculos grãos de areias em seu caminho.
Pequenos redemoinhos rodopiavam pela superfície bailando ao som dos gemidos incessante da ventania que ecoava pelos vales.
No zênite uma lua inchada e amarela velava pelo inóspito planeta servindo de única fonte de luz para o local.
Antigos mares e oceanos jaziam secos e despidos de vida, como se fosse feridas abertas na crosta terrestre.
Velhas florestas e bosques pereceram restando apenas tocos carbonizados, alegoria macabra da completa inexistência da vida.
Nos centros urbanos, estruturas de aço e concreto retorcidas se faziam notar ao longe, pareciam esculturas surrealistas de um gênio louco, que nos seus arroubos de criatividade decidiu deixar para a posteridade a sua criação inusitada, permeada de aço, concreto, vidraças estilhaçadas e corpos vitrificados. Herança da explosão da grande bomba.
Na antiga praça a estatua de uma guerreira com a espada em riste, desafia a deuses e as criaturas, na sua solitária contenda.
Nos bueiros e esgotos da cidade, seres metamorfose caminhavam livremente pelos vão fétidos e escuros.
Eram criaturas que foram geneticamente transformadas após a grande guerra.
Uma mistura bizarra de humanoide com baratas, possuindo mais características das últimas do que dos primeiros.
Seria uma brincadeira de mau gosto das parcas? Castigo dos Deuses ou um acidente genético? Nenhum ser chegou ao x da questão.
Nem eles mesmos conseguiam responder a esse paradoxo.
A sociedade estava organizada de forma patriarcal e possuíam um uma forma de governo democrático, e como tal, não estavam livres das mesquinharias e das lutas de classe que ocorriam, em seu cerne.
A justiça era inusitada, pois era feita de acordo com as posses de cada um, para não haver injustiça normalmente o juiz “que era o dono da cidade” acabava devorando o réu e o acusado, ficando com as posses de ambos.
A harmonia prevalecia através da força de quem tivesse a maior bocarra. Quanto maior a boca, maior o apetite, consequentemente os menores acabavam servindo de alimento e sendo subserviente aos maiores.
Acatando a todos os desmandos e mandos dos bocões de plantão.
O lema que corria a boca miúda era:
“Quem era louco para ir de encontro aos poderosos baratoides super desenvolvidos.”
Nessa sociedade inusitada e atípica, alicerçada na força bruta da boca, existia um ser que apodrecia nas masmorras há séculos, ninguém nunca o vira, mas todos sabiam de sua existência.
Os mais fracos e oprimidos o veneravam como a um deus, fazendo orações e promessas para que o dia do juízo final chegasse logo, e que o mesmo se libertasse e os salvassem do jugo dos mais fortes.
Os poderosos da cidade o temiam e procuravam esquecer a sua existência, promovendo de vez em quando um massacre, pois comiam a metade da população, com o objetivo de acabar com as cantilenas e as orações do populacho.
No entanto, os metamorfos se reproduziam muito rápido, eram piores que os coelhos enjaulados.
Entretanto, um dia, Hélio, um bocarra, querendo alcançar a gloria e a promoção, num arroubo de coragem ou de estupidez, se atreveu a ir ao calabouço com o proposito de exterminar aquele que era nomeado de salvador.
Chegando ao local, temerosamente abre a porta da cela.
De supetão invade o local, olhando todo o perímetro não encontrando nada a não ser um antigo artefato humano com uma válvula enferrujada.
Sorridente e orgulhoso de si mesmo, aproximando-se da coisa e com uma patada, abre a válvula.
Imediatamente o gás escapa silenciosamente e sorrateiramente. Envolvendo a todo o ambiente.
Indo de galeria a galeria, de vão em vão. Deixando em seu percurso um rastro insidioso de detefon e criaturas retorcidas, agonizando e babando pedindo clemência aos deuses.


Zeus, no Olimpo, brandia os seus raios irritado, enquanto esbravejava para Minerva.
- Eu avisei a Hera! Que não inventasse de misturar baratas com humanos. Mas, ela é teimosa. Simplesmente esses seres herdaram o que havia de pior em ambas as raças:
A burrice, a soberba, a tirania, o orgulho, a fome desenfreada pelo poder...
Minerva placidamente e calmamente, olhando nos olhos de Zeus retruca:
-Mas, Zeus. Hera disse que usou um pouco do seu sêmen para fazer a mistura!



domingo, 20 de novembro de 2011

No frio gélido, uma mulher caminha ao som das suas próprias lembranças...






Eva.
Estela Hartz.


Segunda-feira, 23/11/3044.
Ao cair da noite, o frio gélido entrava pelas frestas das residências enregelando aos seres viventes, que em meio às cobertas faziam de tudo em busca do calor abençoado.
As ruas desertas e solitárias são varridas pelos ventos cortantes, que levantavam e rodopiavam velhos periódicos esquecidos e relegados aos asfaltos.
Em um balé pós- moderno dançado ao som da melodia da cacofonia dos seres noturnos, que ao longe, se comunicam e vivenciam mistérios jamais sonhados.
Na imensidão do horizonte, uma mulher caminha embrulhada em uma coberta cerzida e encolhida em si mesma, enfrentando os elementos da natureza e do seu próprio eu.
Seguindo via afora, sai em busca do calor para aquecer e confortar a sua alma, a cada passo dado, recordações lhe açoitam, modificando as suas feições e o seus humores.
Em sua breve existência tantos fatos lhe ocorreram que crescera em meio às tormentas do mundo e da sua alma.
As crenças, as esperanças, os temores, as lidas e a sua fé inabalável na humanidade, entretanto foram tantas as decepções que perderá completamente a inocência e a fé, restando apenas o amaro sabor da veracidade da vida, tal como ela é.
Perdida em suas reminiscências não observa que o caminho seguido à leva direto ao precipício, afogada em suas dores e dissabores dá os passos finais para a queda livre.
Ao sentir solta, livre e sem peso, abre os braços soltando as cobertas que lhe pesaram a vida inteira, abraça a imensidão do mundo, da sua existência e das descobertas feitas nos instantes finais da sua vivencia.
O seu coração num estupor para, sua vida inteira se esvai quando o seu corpo se estatela e se estraçalha nos rochedos da praia.

Terça-feira, 24/11/3044.

O sol surge no horizonte iluminando e aquecendo a todos, na calma praia, os rochedos se erguem tal qual espadas em riste apontando para o céu em busca de oponentes poderosos para digladiarem, entre eles um corpo retalhado e lívido está jogado a ermo, entregue a sua própria sorte.
Servindo de banquete as aves marinhas e aos caranguejos, que transloucados procuram devorar o maior naco de carne.

Tal como um lume, que ao sabor do vento, pode em instante se apagar...

Fugaz...
Mia Hertz.



Em meio ao caos,
Os instantes que antes eram fugazes,
Tornam-se eternos.
Nas dores que revolvem as vísceras,
O temor companheiro constante,
Enlaça e me acolhe.
Entre as brumas e os raios,
Caminho em direção as luzes,
Que norteiam os percursos,
Como faróis acesos num porto seguro,
Entre as cancelas bravias que quebram no quebra-mar,
Durante a tormenta.
O que é seguro neste mundo?
Os sentimentos que norteiam ao individuo,
Podendo libertá-lo ou encarcera-lo permanentemente,
A existência que enriquece ou aliena,
A cada inspiração e expiração do oxigênio.
São as bifurcações da vida,
O entretanto, o senão, o porém e o mas,
Que pontua a cada vã momento.
Escolhas, opções ou omissões,
Amores, desamores ou ausências,
Que liberam ou esmagam,
Nos momentos fugidios que se estendem
Por sentimentos que se prolongam nas areias do tempo.