Te vejo a noite...

Te vejo a noite...

domingo, 20 de novembro de 2011

No frio gélido, uma mulher caminha ao som das suas próprias lembranças...






Eva.
Estela Hartz.


Segunda-feira, 23/11/3044.
Ao cair da noite, o frio gélido entrava pelas frestas das residências enregelando aos seres viventes, que em meio às cobertas faziam de tudo em busca do calor abençoado.
As ruas desertas e solitárias são varridas pelos ventos cortantes, que levantavam e rodopiavam velhos periódicos esquecidos e relegados aos asfaltos.
Em um balé pós- moderno dançado ao som da melodia da cacofonia dos seres noturnos, que ao longe, se comunicam e vivenciam mistérios jamais sonhados.
Na imensidão do horizonte, uma mulher caminha embrulhada em uma coberta cerzida e encolhida em si mesma, enfrentando os elementos da natureza e do seu próprio eu.
Seguindo via afora, sai em busca do calor para aquecer e confortar a sua alma, a cada passo dado, recordações lhe açoitam, modificando as suas feições e o seus humores.
Em sua breve existência tantos fatos lhe ocorreram que crescera em meio às tormentas do mundo e da sua alma.
As crenças, as esperanças, os temores, as lidas e a sua fé inabalável na humanidade, entretanto foram tantas as decepções que perderá completamente a inocência e a fé, restando apenas o amaro sabor da veracidade da vida, tal como ela é.
Perdida em suas reminiscências não observa que o caminho seguido à leva direto ao precipício, afogada em suas dores e dissabores dá os passos finais para a queda livre.
Ao sentir solta, livre e sem peso, abre os braços soltando as cobertas que lhe pesaram a vida inteira, abraça a imensidão do mundo, da sua existência e das descobertas feitas nos instantes finais da sua vivencia.
O seu coração num estupor para, sua vida inteira se esvai quando o seu corpo se estatela e se estraçalha nos rochedos da praia.

Terça-feira, 24/11/3044.

O sol surge no horizonte iluminando e aquecendo a todos, na calma praia, os rochedos se erguem tal qual espadas em riste apontando para o céu em busca de oponentes poderosos para digladiarem, entre eles um corpo retalhado e lívido está jogado a ermo, entregue a sua própria sorte.
Servindo de banquete as aves marinhas e aos caranguejos, que transloucados procuram devorar o maior naco de carne.

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