Te vejo a noite...

Te vejo a noite...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A inusitada criação de Hera e as suas consequências.... Mais uma crônica de Orion, onde o improvável sempre ocorre!

A criação de Hera!
Mia Hertz.
Crônicas de Orion, vigésimo quinto planetoide de Orion.
1203- Idade do Ouro.

Os ventos açoitavam o solo estéril do planetoide, levantando os minúsculos grãos de areias em seu caminho.
Pequenos redemoinhos rodopiavam pela superfície bailando ao som dos gemidos incessante da ventania que ecoava pelos vales.
No zênite uma lua inchada e amarela velava pelo inóspito planeta servindo de única fonte de luz para o local.
Antigos mares e oceanos jaziam secos e despidos de vida, como se fosse feridas abertas na crosta terrestre.
Velhas florestas e bosques pereceram restando apenas tocos carbonizados, alegoria macabra da completa inexistência da vida.
Nos centros urbanos, estruturas de aço e concreto retorcidas se faziam notar ao longe, pareciam esculturas surrealistas de um gênio louco, que nos seus arroubos de criatividade decidiu deixar para a posteridade a sua criação inusitada, permeada de aço, concreto, vidraças estilhaçadas e corpos vitrificados. Herança da explosão da grande bomba.
Na antiga praça a estatua de uma guerreira com a espada em riste, desafia a deuses e as criaturas, na sua solitária contenda.
Nos bueiros e esgotos da cidade, seres metamorfose caminhavam livremente pelos vão fétidos e escuros.
Eram criaturas que foram geneticamente transformadas após a grande guerra.
Uma mistura bizarra de humanoide com baratas, possuindo mais características das últimas do que dos primeiros.
Seria uma brincadeira de mau gosto das parcas? Castigo dos Deuses ou um acidente genético? Nenhum ser chegou ao x da questão.
Nem eles mesmos conseguiam responder a esse paradoxo.
A sociedade estava organizada de forma patriarcal e possuíam um uma forma de governo democrático, e como tal, não estavam livres das mesquinharias e das lutas de classe que ocorriam, em seu cerne.
A justiça era inusitada, pois era feita de acordo com as posses de cada um, para não haver injustiça normalmente o juiz “que era o dono da cidade” acabava devorando o réu e o acusado, ficando com as posses de ambos.
A harmonia prevalecia através da força de quem tivesse a maior bocarra. Quanto maior a boca, maior o apetite, consequentemente os menores acabavam servindo de alimento e sendo subserviente aos maiores.
Acatando a todos os desmandos e mandos dos bocões de plantão.
O lema que corria a boca miúda era:
“Quem era louco para ir de encontro aos poderosos baratoides super desenvolvidos.”
Nessa sociedade inusitada e atípica, alicerçada na força bruta da boca, existia um ser que apodrecia nas masmorras há séculos, ninguém nunca o vira, mas todos sabiam de sua existência.
Os mais fracos e oprimidos o veneravam como a um deus, fazendo orações e promessas para que o dia do juízo final chegasse logo, e que o mesmo se libertasse e os salvassem do jugo dos mais fortes.
Os poderosos da cidade o temiam e procuravam esquecer a sua existência, promovendo de vez em quando um massacre, pois comiam a metade da população, com o objetivo de acabar com as cantilenas e as orações do populacho.
No entanto, os metamorfos se reproduziam muito rápido, eram piores que os coelhos enjaulados.
Entretanto, um dia, Hélio, um bocarra, querendo alcançar a gloria e a promoção, num arroubo de coragem ou de estupidez, se atreveu a ir ao calabouço com o proposito de exterminar aquele que era nomeado de salvador.
Chegando ao local, temerosamente abre a porta da cela.
De supetão invade o local, olhando todo o perímetro não encontrando nada a não ser um antigo artefato humano com uma válvula enferrujada.
Sorridente e orgulhoso de si mesmo, aproximando-se da coisa e com uma patada, abre a válvula.
Imediatamente o gás escapa silenciosamente e sorrateiramente. Envolvendo a todo o ambiente.
Indo de galeria a galeria, de vão em vão. Deixando em seu percurso um rastro insidioso de detefon e criaturas retorcidas, agonizando e babando pedindo clemência aos deuses.


Zeus, no Olimpo, brandia os seus raios irritado, enquanto esbravejava para Minerva.
- Eu avisei a Hera! Que não inventasse de misturar baratas com humanos. Mas, ela é teimosa. Simplesmente esses seres herdaram o que havia de pior em ambas as raças:
A burrice, a soberba, a tirania, o orgulho, a fome desenfreada pelo poder...
Minerva placidamente e calmamente, olhando nos olhos de Zeus retruca:
-Mas, Zeus. Hera disse que usou um pouco do seu sêmen para fazer a mistura!



domingo, 20 de novembro de 2011

No frio gélido, uma mulher caminha ao som das suas próprias lembranças...






Eva.
Estela Hartz.


Segunda-feira, 23/11/3044.
Ao cair da noite, o frio gélido entrava pelas frestas das residências enregelando aos seres viventes, que em meio às cobertas faziam de tudo em busca do calor abençoado.
As ruas desertas e solitárias são varridas pelos ventos cortantes, que levantavam e rodopiavam velhos periódicos esquecidos e relegados aos asfaltos.
Em um balé pós- moderno dançado ao som da melodia da cacofonia dos seres noturnos, que ao longe, se comunicam e vivenciam mistérios jamais sonhados.
Na imensidão do horizonte, uma mulher caminha embrulhada em uma coberta cerzida e encolhida em si mesma, enfrentando os elementos da natureza e do seu próprio eu.
Seguindo via afora, sai em busca do calor para aquecer e confortar a sua alma, a cada passo dado, recordações lhe açoitam, modificando as suas feições e o seus humores.
Em sua breve existência tantos fatos lhe ocorreram que crescera em meio às tormentas do mundo e da sua alma.
As crenças, as esperanças, os temores, as lidas e a sua fé inabalável na humanidade, entretanto foram tantas as decepções que perderá completamente a inocência e a fé, restando apenas o amaro sabor da veracidade da vida, tal como ela é.
Perdida em suas reminiscências não observa que o caminho seguido à leva direto ao precipício, afogada em suas dores e dissabores dá os passos finais para a queda livre.
Ao sentir solta, livre e sem peso, abre os braços soltando as cobertas que lhe pesaram a vida inteira, abraça a imensidão do mundo, da sua existência e das descobertas feitas nos instantes finais da sua vivencia.
O seu coração num estupor para, sua vida inteira se esvai quando o seu corpo se estatela e se estraçalha nos rochedos da praia.

Terça-feira, 24/11/3044.

O sol surge no horizonte iluminando e aquecendo a todos, na calma praia, os rochedos se erguem tal qual espadas em riste apontando para o céu em busca de oponentes poderosos para digladiarem, entre eles um corpo retalhado e lívido está jogado a ermo, entregue a sua própria sorte.
Servindo de banquete as aves marinhas e aos caranguejos, que transloucados procuram devorar o maior naco de carne.

Tal como um lume, que ao sabor do vento, pode em instante se apagar...

Fugaz...
Mia Hertz.



Em meio ao caos,
Os instantes que antes eram fugazes,
Tornam-se eternos.
Nas dores que revolvem as vísceras,
O temor companheiro constante,
Enlaça e me acolhe.
Entre as brumas e os raios,
Caminho em direção as luzes,
Que norteiam os percursos,
Como faróis acesos num porto seguro,
Entre as cancelas bravias que quebram no quebra-mar,
Durante a tormenta.
O que é seguro neste mundo?
Os sentimentos que norteiam ao individuo,
Podendo libertá-lo ou encarcera-lo permanentemente,
A existência que enriquece ou aliena,
A cada inspiração e expiração do oxigênio.
São as bifurcações da vida,
O entretanto, o senão, o porém e o mas,
Que pontua a cada vã momento.
Escolhas, opções ou omissões,
Amores, desamores ou ausências,
Que liberam ou esmagam,
Nos momentos fugidios que se estendem
Por sentimentos que se prolongam nas areias do tempo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Canção noturna...


Canção noturna.
Mia Hertz.

Olhares que se trocam,
Mãos que se tocam,
Numa busca incessante.

Bocas que se unem,
Línguas que se envolvem,
Sendo um só respirar.

Corpos que se esfregam,
Suores que escorrem,
Calores que expandem,
No ar noturno.

Larvas correm e escorrem,
Corrente sanguínea abaixo,
Incendiando corpos e razoes,
Que se buscam,
Noite afora,
No quarto crescente.

Olhos cegos e vendados,
Abraços dados e atados,
Corpos unidos e fundidos,
Almas entrelaçadas e enlaçadas,
Corações batendo em um só ritmo,
Melodias soadas aos acordes dos sentimentos.

Amores nascidos e sentidos,
Enraizados em peitos desnudos,
Marmorizados sob a luz do luar,
Recostados e refastelados na lassidão do ato,
No silencio noturno,
Somente eu e você,
Apenas nós e a brisa.

No finito de teu infinito...





O sono eterno.
Mia Hertz. 

No finito de teu infinito,
Mergulho em um universo imensurável,
Perdida em teu olhar,
Esqueço quem sou ou quem serei.

Submergindo do meu eu,
Trilhando caminhos nunca antes trilhados,
Solitária! Continuo...

Olhando o horizonte,
Abrindo as asas,
Lançando- me no espaço,
Voando sigo pelo o horizonte.
Em busca do meu éter.


Segunda-feira, 23 de novembro de 2011.
Uma tarde quente e escaldante, o sol teimava em querer ferver a todos e a tudo no planeta terra. Em um velório perdido no centro da cidade...

Ela se encontrava em seu esquife. Pálida e marmorizada com os olhos fechados em seu sono eterno.
A boca rubra, pintada com esmero combinava com as rosas vermelhas que lhe cobriam todo o corpo. Parecia uma fada em um etéreo jardim, em pleno auge da primavera.
Em seu sono mortal, vestida toda de preto e com os cabelos negros espalhados ao lado do rosto, feito uma mortalha improvisada.
Era a tranquilidade e a passividade, todo o ímpeto e todo o lampejo se encontravam adormecido.
Ao seu lado, um ser etéreo todo de negro, pairava ao lado do caixão, olhando para o mesmo, perdido e confuso, sem entender o que estava ocorrendo.
Sem entender porque não conseguia romper com a mobilidade que lhe prendia a aquela cama perfumada e florida; ao mesmo tempo como conseguia se vislumbrar?
Ao seu redor, lamentos, choros e comentários lhe chamava a atenção.
Uns lhe angustiavam, outros despertavam lembranças e outros lhe enfureciam.
Em um canto distante do amplo salão, uma coroa de flores chamava atenção pela profusão de rosas e pela faixa que lhe cortava ao meio.
Sem poder ler o que estava escrito, curiosa em querer resolver aquele mistério dantesco, ela desliza lentamente pelo ambiente apinhado de amigos, conhecidos e outros tantos desconhecidos.
Procurando por respostas as suas indagações internas, falava com as pessoas que lhe são queridas, entretanto todas lhe ignoravam. Deixando um sabor amargo de tristeza em seus lábios.
Transtornada e desorientada, ela continua andando em direção à coroa.
Parando em frente à mesma, ela lê:

“Estela, aquela que deixará saudades naqueles que a amam. O sorriso se foi e o brilho do olhar escarnecido”.
Estupefata, finalmente compreendera. Estava morta e se encontrava em seu próprio velório.


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A noite se apresenta lentamente, os bramidos de guerra se faz presente e a morte companheira constante de seres desafortunados olha de esguelha para as suas proximas vitimas....








Crônicas do tempo das trevas em Orion.
Mia Hertz.

Sylphion e Ariadne.

O entardecer já caíra há muito, no entanto um guerreiro de proporção gigantesca continuava com sua ferrenha batalha, espada e homem dançavam ao sabor da melodia da morte, em um bailado que ao mesmo tempo era belo e macabro.
Era um embate de vida e morte, o cansaço lhe tomava a cada segundo que escoava, era a adrenalina que o lhe mantinha em pé, o aroma de sangue empesteava o ar, aguçando o seu olfato e aumentando a fome que lhe revirava o intestino, latejando e lhe deixando com boca salivando.
Ao seu redor os cadáveres se amontoavam, jazendo em poças de sangue que misturada com a terra, enlameava aos seus pés desnudos, enquanto que os feridos se rastejavam fugindo da sua feroz voracidade letal.
Ele já esquecera a muito de sua humanidade, hoje servia apenas como um instrumento de aniquilamento na guerra dos humanoides contra os deuses.
A sua espada era a extensão do seu corpo, era a sua companheira, esposa, amante e amiga. Ou seja, tudo em sua vida.
Estava contando os minutos para que esse combate terminasse para poder se apossar da parte que lhe cabia no butim.
Ele já sonhava acordado com o doce sabor tenro da carne macia das crianças e mulheres da vila, estava tão distraído pensando em como iria degustar aos nacos de carne, que não percebera o que lhe ocorreu.
Quando se deu conta, já era tarde demais, estava envolvido por um corpo ondulante, viscoso, macio e gélido que lhe envolveu.
Foi quando sentiu o abraço mortal que lhe esmagava lentamente, lhe comprimindo pernas, tórax e braços.
Olhou a criatura que lhe enrodilhava, era meia serpente e meia mulher, um ser gigantesco.
A mulher era formosa, alva e com longos cabelos negros, seios brancos e desnudo, empinados como se tivesse sido feito a mão.
A boca rubra prometia mil prazeres e olhar dela esquentava a alma dos mais gélidos homens.
Ele sentia a vida esvair a cada aperto que era dado, mas estava sendo doce morrer nas mãos dela.
Por que, ao mesmo tempo, que era esmagado e dilacerado internamente, era seduzido pelo olhar dela, que lhe prometia o paraíso, a luxúria nunca antes visto e o acolhimento.
Ariadne sussurrava palavras amorosas ao guerreiro, enquanto que lentamente aproximava-se dele, esfregando sensualmente o dorso nu no corpo másculo, olhando-o luxuriosamente encosta os belos lábios rubros nos dele.
Lambendo lentamente eles, roçando docemente os dentes neles, beija-o sofregamente.
Sylphion ao senti a carícia, senti como se mergulhasse em aguas misteriosas e turvas, embalado pelo doce sabor feminino, se entrega ao narcótico prazer que ela lhe proporciona.
Respirando o mesmo folego que o dela, aprofunda mais o beijo e exala o seu último fôlego dentro da boca feminina.
Quando de repente, sente a sua língua ser arrancada de uma só dentada de sua boca e ser partido em dois no abraço mortal da fêmea que o abraça tão docemente.
Agonizando entre os braços dela, vê os seus membros inferiores caídos no solo, com o sangue empapando-os.
Fecha os olhos e se entrega ao frio da morte, que como amante querida lhe acolhe entre os braços, entre uma luta e outra, perdoando aos seus feitos e curando as suas feridas.
O guerreiro carnívoro finalmente encontra o descanso eterno nos braços de Ariadne.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Eis, que na face marcada e macerada pelas dores e alegrias, lágrimas surgem como enxurradas que a tudo lava e limpa:








Lágrimas.
Mia Hertz.

Lágrimas que deslizam,
Face abaixo,
Tal como o orvalho,
Que escorrega pelas pétalas,
Que se perdem sob o solo.

Gotas transparentes,
Pequenos espelhos d’alma,
Carregadas de nostalgia,
Perdidas nos amores,
Desencontradas nas dores,
Daqueles que ousam sentir e derramá-las.

Gotículas e ovaladas,
Que embebedam,
Aos ternos e eternos apaixonados mundo afora,
Que retalham,
Aos sem esperanças de dias melhores,
Que esquartejam,
Aos solitários perdidos e falecidos em vida.

São apenas meras,
Mas, não menos importante:
Lágrimas com sabor de saudade,
Com gosto de reencontro e com o doce aroma do amor,
Com uma pitada de amargor do dissabor e da desolação,
Das percas e dos desencantos.





segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A eterna busca pelo Ágape. O profano anda lado a lado com o sagrado, Etérea vai até as últimas consequências para ir em busca da centelha divina...





Etérea, o anjo caído.
Mia Hertz.

Encontrava-me perdida no olho da tormenta. Os elementos da natureza açoitavam o meu corpo e o meu ser.
Vejo-me em busca de uma guarida onde eu pudesse finalmente descansar e quem sabe encontrar a tão almejada paz.
Continuo andando caindo cada vez mais no torvelinho que me envolve. Os raios laceram a minha pele e os trovões ribombam em meus tímpanos.
As minhas asas se encontram rasgadas, molhadas e caídas costas abaixo.
Expulsa do paraíso vago a ermo por terras hostis, um anjo decaído que perdera a tudo e a todos, menos a esperança de encontrar a sua salvação, prosseguindo solitariamente em sua eterna busca.
No horizonte fito a luz longínqua que me atrai.
Cambaleando continuo tropegamente caminhando em busca do lume salvador. E nas vias de acesso, provo do néctar e do fel que me oferecem, sem, no entanto saciar a fome voraz que consome lentamente ao meu intimo.
A tempestade continua me açoitando impelindo-me a seguir cada vez mais em uma viagem por eras desconhecidas e locais tenebrosos.
Orbitas vazia me olham tentando enxergar a minha alma, seres bestiais tentam me prender, desvencilhando de todos eles, prossigo em minha jornada.
Alguns chegam ao meu encalço, machucando e expondo o vazio a qual sua alma se encontra.
Outros conseguem dilaceram nacos dos meus músculos, mas desvencilhando e lutando continuo fugindo de todos eles.
Em alguns momentos, entro em contendas com eles e consigo dilacera-los com as minhas mãos e presas, deixando atrás de mim um rastro de sangue e de carne, eis o meu legado a todos aqueles que me enfrentam.
O percurso é pesado e repleto de miasmas e seres plasmados, os vãos são sombrios e as avenidas escuras, um universo a parte, onde os seus habitantes vivem nos tormentos e convivem com suas dores infinitas.
O aroma fétido e sulfuroso penetra em minha narina, ferindo-as. Entretanto continuo surda aos gritos e lamentos que me atormentam a cada momento.
Sigo em busca do lume, enfrentando a todos e a tudo, principalmente a mim mesma.
Essa eterna fome pela destruição, pelo caótico e pela transformação, que foi a razão da minha queda e também do meu êxito, porque se eu não possuísse essas características Lúcifer teria conseguido destruir as ameias e teria invadido o paraíso.
Perdida em minhas reminiscências e exausta me encontro próxima da guarida da luz, que tanto me inquieta e me chama.
A centelha reluz atraindo-me, clamando pela junção e pela união, o regresso da filha prodiga na moradia do pai bendito.
Estendo a mão em busca do calor tão desejado, quando tentáculos agarram e sujeitam os meus membros e me puxam.
Debatendo, lutando e urrando, batalho contra essa força sobre-humana que me arrasta cada vez mais para perto do lume.
Horrorizada fito ao ser a minha frente, luminoso e belíssimo, entretanto perverso e demoníaco.
Sinto quando ele arranca o meu braço, escuto os músculos sendo rasgado, o osso estralando como se fossem folhas secas sendo esmagadas nas mãos das crianças nas frias tardes de inverno.
Permito que minhas presas surjam e que as garras da minha mão que sobrara apareça.
Lanço-me de encontro ao ser, procurando pela sua jugular, cravo-lhe as presas rasgando a carne adocicada e sinto o poder do seu sangue em meus lábios rachados.
Sugo, conhecendo a sua essência e provando do seu ser.
De um só golpe, lhe enfio a garra externo adentro e retiro o seu coração que ainda morbidamente pulsa na minha mão.
Destroço o seu pescoço, banqueteando-me com sua carne amarga. Destruído e caído aos meus pés, vejo a fragilidade da inútil procura da centelha divina.
Me encosto na gruta, inspiro profundamente, entrego-me ao cansaço de mais uma contenda vazia.
Com a minha garra, abro a minha aorta e deixo o sangue verter.
Purificando o ambiente e ao meu ser. Centelhas de fogo lambem a minha pele, finalmente a paz me acolhe e fito a escuridão que habita no meu ser.
E pela primeira vez, acolho o meu lado sombrio, unidos alcançamos a ágape.



Ficara na responsabilidade dele de recolher o último anjo caído, finalmente ela conseguira a sua redenção, passara por muitas provas e a todas vencera.
Entrando lentamente na sombria gruta, ele busca por ela com o coração aos pulos, após tanto tempo finalmente iria vê-la novamente, o reencontro tinha um sabor doce em seus lábios e no seu ser.
Quando se depara ao cadáver de um ser mutilado e olhando mais a frente...
O arcanjo fita a pequena mulher destroçada que placidamente se encontrava deitada no solo em seu sono mortal, as asas cruzavam o peito como se fosse uma manta que acolhe e protege, a face marmórea refletia a paz dos últimos momentos.
Quando vislumbra em pé, o espirito da criatura angelical que o fita pela ultima vez, antes de abrir os braços e ser sugada para o interior de uma grande luz.






domingo, 14 de agosto de 2011

As cancelas estão abertas e nelas... Eis que surgem com ímpeto lampejos de criações que rasgam o véu do racional e mergulham no mar das emoções... Que muitas vezes se mostram não tão plácidas e não tão melosas... Mas, são uma viagem ao interior do eu ou uma volta do eu. Quem sabe?

Ausência...
Mia Hertz.

Lágrimas que rolam,
Caem e se perdem,
No tempo e no espaço.

Amores esquecidos e lembrados,
Entre um gole e outro,
Perdidos e desencontrados,
Nas baforadas do cigarro.

Saudade mesquinha,
Que oprime e esquarteja,
O coração que teima em bater,
Apesar da dor da tua partida.

O que são os sentimentos,
Senão meros flagelos,
Que açoitam a minha alma,
Noite a fora...

Sem descanso ou paz,
Apenas o amaro latejar que teima,
Em mostrar o que se perdeu,
Na tua constante ausência.



Onde se inicia a vida e onde termina a morte? Se a cada dia nos morremos um pouco. Um pedaço a cada segundo e a cada instante nascemos!






Vida...
Mia hertz.

A cada tumulo visitado,
Um epitáfio lido,
Uma vida passada,
Uma historia acabada,
Uma rosa perecida.

A cada pá de terra,
Que cai lentamente,
Um sonho perdido,
Um choro sentido,
Um coração partido,
Uma família desunida.

A cada rosto sombrio visto,
Um sentimento inacabado,
Um tormento sem dó e
Uma ferida sempre aberta no coração enxague.

A cada osculo da morte,
Um nato que rompe a aurora,
Enquanto que um incauto percorre os corredores do além...
A cada segundo que passa,
Um pedaço meu falece,
Assim como outros tantos ressurgem...
E assim é o viver...
Um eterno acasalamento da morte com a vida,
Ou da vida com a morte. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Noite...

Noite...

 Na penumbra quantas coisas ocorrrem. É impossível mensurar tudo o quanto se sente quando as palavras são meros enfeites para quantificar o quanto se sente... E quando os sentidos estão envolvidos com o sentir, não se sabe onde começa um ou quando termina o outro...
Sendo apenas torvelhinhos de sentimentos...







Entre sussurros e beijos,
Molhados e suados,
Gemidos e abraços,
Encaixados e apertados,
Dentro dos teus braços,
Me entrego de corpo e alma.
Esquecidos e perdidos na penumbra da alcova,
Encontrados nos carinhos,
Mergulhados e imersos nos desejos,
Vinculados nos sentimentos,
Que nos isolam do mundo e dos porquês do sobreviver...
Nos encontramos,
Unidos no ato,
Atados nos abraços,
Despertados nos beijos e carinhos trocados.
Nas promessas que foram sussurradas,
As pressas entremeadas de ósculos,
Encharcadas de amor e lágrimas,
Nas horas que escoam,
Sem piedade na noite...

by: Mia Hertz.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Até onde a dor e angustia leva um ser inquebrável a optar pelos caminhos tortuosos do umbral?







Antígona, a mulher lobo.
Mia Hertz.

Gazeta de Orion:
Até onde a dor e angustia leva um ser inquebrável a opta pelos caminhos tortuosos do Umbral? Loucura ou sanidade? Mas, o que é a loucura, dentro de um universo que coisifica e banaliza aos seres e aos seus sentimentos, reduzindo-os a meras marionetes nas mãos do outro.


Idade das trevas, ano de 1299.

Fito o horizonte na esperança de quem sabe, esquecer a tudo e a todos; Deuses e humanos, suas guerras insanas, seus conflitos, seus dilemas e hipocrisias.
Ainda sinto em meu olfato o aroma dos suores, dos temores, da fumaça, da carnificina e do sangue que encharcou o solo na contenda.
Nas minhas retinas ainda vejo os corpos destroçados e Apolo feito uma fúria brandindo a sua espada retalhando imortais, mortais e tantos outros que atravessaram o seu caminho.
Inclusive a mim! O meu corpo repleto de ferimentos e o coração destroçado, corro pelo gélido caminho.
Tendo nos meus calcanhares os espectros daqueles quer matei e mutilei.
Perseguida pela tua feição, pelo o teu olhar e pela tua traição. Ainda possuo a seta cravejada nas minhas costas. Procuro escapar de ti ou quem sabe de mim mesma, pois o calor da paixão ainda encharca o meus sentidos apesar de tanto tempo passado, sendo apenas sobrepujada pela dor do teu abandono.
Buscando entre os vales gélidos e espessos uma guarida para poder me enfurnar e cair no sono eterno.
Caminho sem descanso, impelida pelos ventos do Norte e pelo sentimento de urgência para sobreviver, sentido inato a todos os seres vivos.
Sob o chão as marcas das minhas patas deixam um rastro de sangue e dor, colorindo o alvo solo com o carmim do meu fluído vital.

A minha frente uma gruta se destaca na paisagem branca e estéril, acenando, oferecendo abrigo, proteção e calor.
O porto seguro contra os elementos da intempérie.
Entrando nela sinto a sensação adocicada do retorno ao útero materno, onde amada e acolhida não sentia as agruras da vida.
Sigo rumo às profundezas em busca do calor das caldeiras de Hades.
Recosto-me próximo a parede, deito e fico enrodilhada no meu próprio corpo, sentindo a macies da pelagem.
Preparo-me para cair no sono curador da minha raça. Mantenho a forma lupina, procuro apagar a mulher do meu interior, as suas contradições, decepções, medo, dores e amores mal resolvidos.
Hibernando entre os ventos uivantes que cantam lá fora e a angustia que consome o meu ser a cada instante.
Procuro mergulhar no esquecimento do sono, imersa em um universo caótico de alegorias bizarras que me assaltam durante o mesmo.
Perdida nele encontro com seres que se foram e com outros tantos que fazem parte do meu cotidiano.
Como marionete balanço nas mãos das parcas a deriva em buscas infrutíferas...
Tendo sempre os seus olhos gravados na minha retina e a latente saudade que corrói como um câncer.
Abro os olhos e vejo a sombria caverna que me acolheu por mais uma noite e quem sabe, será o meu túmulo?
Pois, sinto a vida esvair através dos inúmeros machucados sofridos na batalha.
Uivo, lamentando a sorte de Antígona a mulher. Entretanto, acredito que assim como a albina loba, ela já não tem o porquê de lutar, pois perderá tudo.
Rasgando com as afiadas presas as próprias patas, transformo-me em mulher.
Contemplo através dos olhos humanos o rubro sangue escorrer do delicado e alvo pulso. Sorrindo, encosto na aquecida parede e me perco nas lembranças tão queridas e caras...

Primavera, Ano 1300. Idade das trevas.
Constelação de Orion, vigésimo terceiro planeta.

O corpo da ultima mutante fora encontrado nas cavernas de Hades.
A mais bela guerreira da Idade das trevas Antígona, a mulher loba, antiga amante de Apolo, está morta.
Fora encontrada banhada em seu próprio sangue fitando o horizonte.



terça-feira, 5 de julho de 2011

Essa narrativa foi realizado em homenagem as centenas de mulheres que faleceram e falecem devido à violência doméstica e o descaso das autoridades governamentais. É o meu grito de revolta por todas elas que foram brutalizadas, assassinadas e coisificadas em nosso país.





Gritos No Silêncio! 
Mia Hertz.


Encontrava-me jogada no meio da minha cozinha, a mesma que eu passara por tantos momentos felizes, banhada no meu próprio sangue que vertia dos cortes que marcavam a minha alva e tenra carne.
Meus olhos se encontravam abertos sem nada ver, retinas vazias e sem vida, apenas fitando o teto do meu lar.
Minha boca se encontrava aberta como se eu ainda pudesse continuar gritando pelas dores ocasionadas por cada facada recebida e dos pedidos de clemencia e de socorro não escutados, que viraram ecos despercebidos na floresta de concreto a minha volta.
Meus braços estavam rotos, quebrados e virados em ângulos estranhos, pareciam membros de uma boneca velha e despedaçada.
A minha face tão bela e juvenil anteriormente, se encontrava retalhada e disforme.
O meu belo sorriso que a todos acolhiam se perdera a cada estocada dada.
Entre as minhas pernas, a minha vagina estava estraçalhada e tinha sido invadida por uma garrafa de cerveja vazia, como se a minha feminilidade pudesse ser perdida em um ato tão vil.
Na gélida pós-morte, questiono-me o porquê de tanta violência?
Reviso toda a minha curta vida e sinto-me roubada, violada, ultrajada e traída pelo ser a qual eu confiarei o meu ser.
Onde estava o homem a qual eu tinha feito os votos e juras de fidelidade e de amor perante Deus e aos homens?
Pois quem eu vejo na minha presença é um ser a qual desconheço e que me fita com um ódio e agressividade sem limite.
E tudo isso por causa de um jantar que não fora colocado...




segunda-feira, 4 de julho de 2011

Nem o Umbral pôde separar um amor que está fadado a se eternizar. Os Deuses podem berrar reclamarem e se contorcerem de inveja, pois o que “É do Centauro o Tritão não come” – Kratos.



Poemas trocados entre Kratos e Galatéia:
Kratos olhando para o infinito:
Noite linda,
Beira da praia,
Sentei-me para ver as ondas!

Nuvens invadiram o céu,
Encobrindo principalmente a lua (crescente ou minguante).
Neste momento apenas escutava o barulho das ondas.
Quando me dei por conta o céu estava mais estrelado.

Galatéia ou Estrela:
Estrela! Brilhas aonde?
No céu, na terra, no mar...

Brilho para um dia te encontrar,
...Em  meus olhos é você a brilhar,
Com meu brilho a te iluminar.
Para você se encantar!
Caminhante errante pelas areias do deserto,
 A teu encontro vou,
Para enfim teu brilho não mais perder.

Virá ao meu encontro para poder te olhar nos teus olhos, enxergar e a você admirar,
Meu brilho não perdera enquanto você me enxergar,
Tão distante que está,
Tão distante vou ficar.

Entre nuvens não consigo te achar,
Querendo te ver sem poder,
Teu olhar a não enxergar.

Somente o meu brilhar,
Vai poder à distância te iluminar,
Vai estrela, brilha novamente!
Vou brilhar até um dia poder te encontrar.

Fazendo ver de repente,
Se me deixar aqui a te esperar,

Não se vá!

Seja constante e não desapareça,
Seja intensa,
Sem ter consciência de ser.

Eu vivo a te procurar,
Serei tão intenso,
Que meu coração ao palpitar,
 Vai escutar as batidas até você se emocionar.

Viver,
Por simplesmente viver,
Sem você, o que será?

Me procuras,
Navegues...
Corre e alcance para pode encontrar aquele que te deseja.

A noite, noite, noite...
 Volte logo para poder encontrar,
Com quem eu desejo ficar,
A distância não é tudo!

Há! Se eu pudesse aí estar,
Há! Se eu pudesse a você abraçar,
Há! Se eu pudesse a você encantar,
Há! Se eu pudesse a você beijar.

Nos meus lábios sentir,
O desejo de te amar,
Fico a procurar,
Mas tão distante você está.

A estrela que possa cair,
Pensa baixinho...
Como vai me encontrar?
Para então aos braços ter,
Para eu te olhar,
 Para eu sentir, te respeitar e te amar.

Em seus lábios poder me perder,
Não quero perder jamais.

Quem é você?
Se não entendo o que és?
Como saberei que estou
Perdido ou me encontrei?
Não estará perdida ao momento que me veres.

Pois em meus braços,
 Cairá para um dia te acariciar,
 Em meu corpo ficar,
 Para um dia te amar!
Quem é você?

Galatéia, no Umbral pensando em Kratos:

Sou estrela para brilhar,
Sou estrela para te iluminar,
Ando à noite a te seguir.
O dia sem direção,

O meu nome em sua memória ficar.
Para nunca esquecer,
Da estrela que um dia quis conhecer.

Eu te conheço à distância,
Irei na noite escura,
Mas somente sem a lua,
Para poder você me enxergar,
Entre nuvens não é possível.

Uma noite sem luar em teus braços quero deitar,
Para te acariciar, te sentir, te beijar e te amar,
Mas, nunca em meus pensamentos,
Te quero ao meu lado.

A chuva atormenta e adormece minha alma,
Os pingos da chuva refrescam teu e o meu corpo,
Enquanto que os mesmos se esquentam de desejos de amores.

Quero te encontrar,
Então venha,
Estou aqui a lhe esperar.

Mesmo de olhos fechados veja a tua luz,
Não importa a distância,
Pois eu quero te encontrar,
Nem que seja apenas para uma noite te amar.

Digas novamente para não esquecer,
 Se um dia puder te encontrar,
Uma amizade linda jamais poderá deixar de saber a verdade um do outro.


Saberás não estar sozinho,
Saberás ser amado e agraciado pelo amor de quem tem teu coração.
Desejo, intenso, amor sem sentido, apenas o desejo egoísta!

Nada disso importa,
Quero o brilho de quem nem me aquece, 
Só existe por existir...

Beleza ao longe,
Te quero!


Galatéia entre suspiros e lágrimas, olhando o firmamento negro, orando pedindo ao seu pai Poseidon que permita o seu amor pelo Centauro.
Assustada pelos gritos e gemidos que ecoam no sombrio Umbral se agarra as recordações de Kratos, arrependida por não ter falado tudo o que deveria.


Kratos,
Como posso responder a tão lindo poema,
Que toca o fundo da minha alma.
Que se transforma em desejo,
Um desejo tão premente de está ao lado desse ser.

Tão conhecido, mas tão desconhecido...
Que encanta e atrai,
Chegando a roubar o brilho das estrelas e porque não dizer da própria lua?
Que inchada de prazer,
Brilha no éter,
Iluminando aqueles que se desejam.

De que adianta ser a estrela,
Se no negrume do céu,
Estou a brilhar só,
Intocada e longínqua.

Melhor seria,
Aproveitar os bons ventos,
E me transmutar na mulher,
Que se esconde atrás do brilho frio do corpo celeste.

Uma vez transformada,
A frieza dará lugar ao calor,
Do corpo feminino,
Que queimará aquele
Que ao abraçá-la,
Perder-se-á nos seus carinhos e beijos.

Não serão dois,
Mas uno,
Porque não se saberá onde começa um e onde o outro irá terminar.
Em meios a braços, beijos e pernas.
Só se escutará os gemidos e os sussurros,
Daqueles que se perdem e se descobrem.

Com certeza mergulharei em teus beijos,
E nos abraço,
Que são dados no meio da noite,
Perderei-me e certamente,
Nos beijos sôfregos me descobrirei,
Não mais como uma estrela,
Mas como uma mulher
E talvez...

Quem sabe...
Esse encontro,
Não seja apenas mais um,
E sim uma série de muitos.
Mesmo que não possa ser hoje
Ou mesmo amanhã.
Mas,
Quem sabe?
Nos próximos instantes,
Porque mesmo que a distância nos separe,
Há algo mais que nos une,
O que é?
Não sei?
Mas será desvelado.
 A cada olhar...
A cada toque...
A cada troca...
A cada sussurro...
A cada gemido...


Poemas que fazem parte do conto Kratos e Galatéia/ Mia Hertz.
Autores:  Canção de Kratos. Kratos Frey. Resposta de Galatéia. Estela Hartz.