Te vejo a noite...

Te vejo a noite...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Até onde a dor e angustia leva um ser inquebrável a optar pelos caminhos tortuosos do umbral?







Antígona, a mulher lobo.
Mia Hertz.

Gazeta de Orion:
Até onde a dor e angustia leva um ser inquebrável a opta pelos caminhos tortuosos do Umbral? Loucura ou sanidade? Mas, o que é a loucura, dentro de um universo que coisifica e banaliza aos seres e aos seus sentimentos, reduzindo-os a meras marionetes nas mãos do outro.


Idade das trevas, ano de 1299.

Fito o horizonte na esperança de quem sabe, esquecer a tudo e a todos; Deuses e humanos, suas guerras insanas, seus conflitos, seus dilemas e hipocrisias.
Ainda sinto em meu olfato o aroma dos suores, dos temores, da fumaça, da carnificina e do sangue que encharcou o solo na contenda.
Nas minhas retinas ainda vejo os corpos destroçados e Apolo feito uma fúria brandindo a sua espada retalhando imortais, mortais e tantos outros que atravessaram o seu caminho.
Inclusive a mim! O meu corpo repleto de ferimentos e o coração destroçado, corro pelo gélido caminho.
Tendo nos meus calcanhares os espectros daqueles quer matei e mutilei.
Perseguida pela tua feição, pelo o teu olhar e pela tua traição. Ainda possuo a seta cravejada nas minhas costas. Procuro escapar de ti ou quem sabe de mim mesma, pois o calor da paixão ainda encharca o meus sentidos apesar de tanto tempo passado, sendo apenas sobrepujada pela dor do teu abandono.
Buscando entre os vales gélidos e espessos uma guarida para poder me enfurnar e cair no sono eterno.
Caminho sem descanso, impelida pelos ventos do Norte e pelo sentimento de urgência para sobreviver, sentido inato a todos os seres vivos.
Sob o chão as marcas das minhas patas deixam um rastro de sangue e dor, colorindo o alvo solo com o carmim do meu fluído vital.

A minha frente uma gruta se destaca na paisagem branca e estéril, acenando, oferecendo abrigo, proteção e calor.
O porto seguro contra os elementos da intempérie.
Entrando nela sinto a sensação adocicada do retorno ao útero materno, onde amada e acolhida não sentia as agruras da vida.
Sigo rumo às profundezas em busca do calor das caldeiras de Hades.
Recosto-me próximo a parede, deito e fico enrodilhada no meu próprio corpo, sentindo a macies da pelagem.
Preparo-me para cair no sono curador da minha raça. Mantenho a forma lupina, procuro apagar a mulher do meu interior, as suas contradições, decepções, medo, dores e amores mal resolvidos.
Hibernando entre os ventos uivantes que cantam lá fora e a angustia que consome o meu ser a cada instante.
Procuro mergulhar no esquecimento do sono, imersa em um universo caótico de alegorias bizarras que me assaltam durante o mesmo.
Perdida nele encontro com seres que se foram e com outros tantos que fazem parte do meu cotidiano.
Como marionete balanço nas mãos das parcas a deriva em buscas infrutíferas...
Tendo sempre os seus olhos gravados na minha retina e a latente saudade que corrói como um câncer.
Abro os olhos e vejo a sombria caverna que me acolheu por mais uma noite e quem sabe, será o meu túmulo?
Pois, sinto a vida esvair através dos inúmeros machucados sofridos na batalha.
Uivo, lamentando a sorte de Antígona a mulher. Entretanto, acredito que assim como a albina loba, ela já não tem o porquê de lutar, pois perderá tudo.
Rasgando com as afiadas presas as próprias patas, transformo-me em mulher.
Contemplo através dos olhos humanos o rubro sangue escorrer do delicado e alvo pulso. Sorrindo, encosto na aquecida parede e me perco nas lembranças tão queridas e caras...

Primavera, Ano 1300. Idade das trevas.
Constelação de Orion, vigésimo terceiro planeta.

O corpo da ultima mutante fora encontrado nas cavernas de Hades.
A mais bela guerreira da Idade das trevas Antígona, a mulher loba, antiga amante de Apolo, está morta.
Fora encontrada banhada em seu próprio sangue fitando o horizonte.



terça-feira, 5 de julho de 2011

Essa narrativa foi realizado em homenagem as centenas de mulheres que faleceram e falecem devido à violência doméstica e o descaso das autoridades governamentais. É o meu grito de revolta por todas elas que foram brutalizadas, assassinadas e coisificadas em nosso país.





Gritos No Silêncio! 
Mia Hertz.


Encontrava-me jogada no meio da minha cozinha, a mesma que eu passara por tantos momentos felizes, banhada no meu próprio sangue que vertia dos cortes que marcavam a minha alva e tenra carne.
Meus olhos se encontravam abertos sem nada ver, retinas vazias e sem vida, apenas fitando o teto do meu lar.
Minha boca se encontrava aberta como se eu ainda pudesse continuar gritando pelas dores ocasionadas por cada facada recebida e dos pedidos de clemencia e de socorro não escutados, que viraram ecos despercebidos na floresta de concreto a minha volta.
Meus braços estavam rotos, quebrados e virados em ângulos estranhos, pareciam membros de uma boneca velha e despedaçada.
A minha face tão bela e juvenil anteriormente, se encontrava retalhada e disforme.
O meu belo sorriso que a todos acolhiam se perdera a cada estocada dada.
Entre as minhas pernas, a minha vagina estava estraçalhada e tinha sido invadida por uma garrafa de cerveja vazia, como se a minha feminilidade pudesse ser perdida em um ato tão vil.
Na gélida pós-morte, questiono-me o porquê de tanta violência?
Reviso toda a minha curta vida e sinto-me roubada, violada, ultrajada e traída pelo ser a qual eu confiarei o meu ser.
Onde estava o homem a qual eu tinha feito os votos e juras de fidelidade e de amor perante Deus e aos homens?
Pois quem eu vejo na minha presença é um ser a qual desconheço e que me fita com um ódio e agressividade sem limite.
E tudo isso por causa de um jantar que não fora colocado...




segunda-feira, 4 de julho de 2011

Nem o Umbral pôde separar um amor que está fadado a se eternizar. Os Deuses podem berrar reclamarem e se contorcerem de inveja, pois o que “É do Centauro o Tritão não come” – Kratos.



Poemas trocados entre Kratos e Galatéia:
Kratos olhando para o infinito:
Noite linda,
Beira da praia,
Sentei-me para ver as ondas!

Nuvens invadiram o céu,
Encobrindo principalmente a lua (crescente ou minguante).
Neste momento apenas escutava o barulho das ondas.
Quando me dei por conta o céu estava mais estrelado.

Galatéia ou Estrela:
Estrela! Brilhas aonde?
No céu, na terra, no mar...

Brilho para um dia te encontrar,
...Em  meus olhos é você a brilhar,
Com meu brilho a te iluminar.
Para você se encantar!
Caminhante errante pelas areias do deserto,
 A teu encontro vou,
Para enfim teu brilho não mais perder.

Virá ao meu encontro para poder te olhar nos teus olhos, enxergar e a você admirar,
Meu brilho não perdera enquanto você me enxergar,
Tão distante que está,
Tão distante vou ficar.

Entre nuvens não consigo te achar,
Querendo te ver sem poder,
Teu olhar a não enxergar.

Somente o meu brilhar,
Vai poder à distância te iluminar,
Vai estrela, brilha novamente!
Vou brilhar até um dia poder te encontrar.

Fazendo ver de repente,
Se me deixar aqui a te esperar,

Não se vá!

Seja constante e não desapareça,
Seja intensa,
Sem ter consciência de ser.

Eu vivo a te procurar,
Serei tão intenso,
Que meu coração ao palpitar,
 Vai escutar as batidas até você se emocionar.

Viver,
Por simplesmente viver,
Sem você, o que será?

Me procuras,
Navegues...
Corre e alcance para pode encontrar aquele que te deseja.

A noite, noite, noite...
 Volte logo para poder encontrar,
Com quem eu desejo ficar,
A distância não é tudo!

Há! Se eu pudesse aí estar,
Há! Se eu pudesse a você abraçar,
Há! Se eu pudesse a você encantar,
Há! Se eu pudesse a você beijar.

Nos meus lábios sentir,
O desejo de te amar,
Fico a procurar,
Mas tão distante você está.

A estrela que possa cair,
Pensa baixinho...
Como vai me encontrar?
Para então aos braços ter,
Para eu te olhar,
 Para eu sentir, te respeitar e te amar.

Em seus lábios poder me perder,
Não quero perder jamais.

Quem é você?
Se não entendo o que és?
Como saberei que estou
Perdido ou me encontrei?
Não estará perdida ao momento que me veres.

Pois em meus braços,
 Cairá para um dia te acariciar,
 Em meu corpo ficar,
 Para um dia te amar!
Quem é você?

Galatéia, no Umbral pensando em Kratos:

Sou estrela para brilhar,
Sou estrela para te iluminar,
Ando à noite a te seguir.
O dia sem direção,

O meu nome em sua memória ficar.
Para nunca esquecer,
Da estrela que um dia quis conhecer.

Eu te conheço à distância,
Irei na noite escura,
Mas somente sem a lua,
Para poder você me enxergar,
Entre nuvens não é possível.

Uma noite sem luar em teus braços quero deitar,
Para te acariciar, te sentir, te beijar e te amar,
Mas, nunca em meus pensamentos,
Te quero ao meu lado.

A chuva atormenta e adormece minha alma,
Os pingos da chuva refrescam teu e o meu corpo,
Enquanto que os mesmos se esquentam de desejos de amores.

Quero te encontrar,
Então venha,
Estou aqui a lhe esperar.

Mesmo de olhos fechados veja a tua luz,
Não importa a distância,
Pois eu quero te encontrar,
Nem que seja apenas para uma noite te amar.

Digas novamente para não esquecer,
 Se um dia puder te encontrar,
Uma amizade linda jamais poderá deixar de saber a verdade um do outro.


Saberás não estar sozinho,
Saberás ser amado e agraciado pelo amor de quem tem teu coração.
Desejo, intenso, amor sem sentido, apenas o desejo egoísta!

Nada disso importa,
Quero o brilho de quem nem me aquece, 
Só existe por existir...

Beleza ao longe,
Te quero!


Galatéia entre suspiros e lágrimas, olhando o firmamento negro, orando pedindo ao seu pai Poseidon que permita o seu amor pelo Centauro.
Assustada pelos gritos e gemidos que ecoam no sombrio Umbral se agarra as recordações de Kratos, arrependida por não ter falado tudo o que deveria.


Kratos,
Como posso responder a tão lindo poema,
Que toca o fundo da minha alma.
Que se transforma em desejo,
Um desejo tão premente de está ao lado desse ser.

Tão conhecido, mas tão desconhecido...
Que encanta e atrai,
Chegando a roubar o brilho das estrelas e porque não dizer da própria lua?
Que inchada de prazer,
Brilha no éter,
Iluminando aqueles que se desejam.

De que adianta ser a estrela,
Se no negrume do céu,
Estou a brilhar só,
Intocada e longínqua.

Melhor seria,
Aproveitar os bons ventos,
E me transmutar na mulher,
Que se esconde atrás do brilho frio do corpo celeste.

Uma vez transformada,
A frieza dará lugar ao calor,
Do corpo feminino,
Que queimará aquele
Que ao abraçá-la,
Perder-se-á nos seus carinhos e beijos.

Não serão dois,
Mas uno,
Porque não se saberá onde começa um e onde o outro irá terminar.
Em meios a braços, beijos e pernas.
Só se escutará os gemidos e os sussurros,
Daqueles que se perdem e se descobrem.

Com certeza mergulharei em teus beijos,
E nos abraço,
Que são dados no meio da noite,
Perderei-me e certamente,
Nos beijos sôfregos me descobrirei,
Não mais como uma estrela,
Mas como uma mulher
E talvez...

Quem sabe...
Esse encontro,
Não seja apenas mais um,
E sim uma série de muitos.
Mesmo que não possa ser hoje
Ou mesmo amanhã.
Mas,
Quem sabe?
Nos próximos instantes,
Porque mesmo que a distância nos separe,
Há algo mais que nos une,
O que é?
Não sei?
Mas será desvelado.
 A cada olhar...
A cada toque...
A cada troca...
A cada sussurro...
A cada gemido...


Poemas que fazem parte do conto Kratos e Galatéia/ Mia Hertz.
Autores:  Canção de Kratos. Kratos Frey. Resposta de Galatéia. Estela Hartz.

O amor pode ou não superar as barreiras da morte? -"Kratos, mesmo que os gumes lhe perfurem e matem, sempre te amarei onde eu estiver - Galatéia".

Crônicas de Orion. Idade Primitiva.
Quando o amor se torna algo que morre e nasce a cada amanhecer...
Kratos e Galatéia.
Mia Hertz.



Ele se encontrava sentado no penhasco, olhando o horizonte e perdido em seus pensamentos. Estava tão imerso em si mesmo, que não se dava conta do espetáculo que a natureza proporcionava para os seres ao seu redor.
O poente matizava o céu de vermelho e laranja, Febo parecia que iria beijar ao oceano de tão próximo que se encontrava de suas águas.
O silêncio do entardecer só era quebrado pelas gaivotas que cortava os ares em busca de abrigo para passarem o anoitecer.
A brisa suave acariciava levemente o ser, refrescando e acariciando-o, como se estivesse enamorada por ele.
Sentindo a ligeira carícia, relaxa e volta a fitar a sua frente em sua eterna busca, evoca o ser querido que lhe fora arrancado por Plutão.
Ela se encontrava perdida para sempre, no Umbral, enquanto que ele estava fadado a ser eternamente amaldiçoado.
Encontrava-se cansado, faminto e solitário...
Vivia recordando a sua bela ninfa a bailar entre as rosas e arbustos, enquanto que suas irmãs ficavam a tagarelar e a entrelaçar os cabelos de Prosérpina. Todas tão infantis e ao mesmo tempo tão mulheres nesse momento.
Recordo-me de Pandora e de sua insensatez ao abrir a caixa e liberar a todas as desgraças e malefícios sob a terra, no entanto, esse fato nem me abalou, pois o meu coração já se encontrava em frangalhos, corroído pela dor, pelo ciúme e pelo despeito.
Para mim a esperança há muito se perderá entre o caos a qual me encontrava. Já implorara a todos os Deuses perdão pela minha arrogância e altivez, porém todos estavam surdos e mudos para minha dor e maldição.
Cego pela dor, vejo mais uma vez a lua subir pelo zênite, vejo que há minha hora está chegando e que já não posso me perder nas minhas caras e tão queridas  lembranças.
O tempo urge, o meu está pelo fio.
Levanto-me do solo, procuro refúgio na cálida água do oceano, que banha a terra tão amada.
Abro os braços e salto no vazio, entre os penhascos em rumo às profundezas que me chama, como a amante saudosa e luxuriante.
Nesse voo cego, sinto a vida passar pela minha retina e escapar do meu corpo, nos meros segundos que ainda resta da queda livre.
Vejo os penhascos que submergem do oceano tal quais adagas a minha espera, para varar e corromper ao meu corpo, mas já não tenho mais temor, há tantos séculos que morro desse modo, que as dores do óbito não são maiores do que a dor de se está vivo preso a terra olhando e buscando a ti eternamente.
Evoco pela última vez o sabor dos teus lábios e da tua pele macia. Os seus gemidos ainda ecoam em meus ouvidos, os teus sussurros estão gravados em meu coração.
E o teu corpo alvo que muitas vezes fiz o meu ser de adoração, se faz presente nos derradeiros momentos.
Ainda sinto o gosto do teu orgasmo em minha boca, o aperto de tua vagina comprimindo o meu pênis a cada penetração que fora dada e o prazer da tua liberação quando o teu orgasmo se faz presente.
Vejo e sinto a tua entrega, pois ela foi de corpo e alma. Ainda a tenho impregnado em minha pele, mesmo depois de tantos séculos.
Entretanto, só há recordações, pois a mulher que gemia e prometia um jardim de prazeres se perdeu nas chamas de Plutão.

Restando apenas doces recordações que acabaram por apunhalar o meu ser a cada momento.
Onde a doce Galatéia se encontrará?
Envolta e acolhida em uma alcova de labaredas perdida para sempre do seu amado centauro.
Nos momentos finais, meu coração para, o estupor da morte me acolhe, os gumes cortantes retalham e rasgam o meu corpo; finalmente cessam as minhas lembranças.
Entretanto, amanhã reiniciará o meu tormento, volto para os penhascos, para a minha solitária jornada e memórias.
Para no apogeu de Diana, eu me lançar de encontro à morte.
Triste sina a minha, tudo por amor a uma ninfa, morrer diariamente até que os deuses me perdoem por ter amado a Galatéia.
A filha de Poseidon com Ceres, prometida a Tritão, que ousou ir de encontro aos Deuses e pereceu sob as labaredas de Plutão.
Kratos Carpe dien, O Centauro.




Como separar a realidade do horror? Especialmente quando você é a presa de um predador sem limites ou consciência, restando apenas a fugir e quem sabe, poderá ter a sorte de escapar de um futuro terrível....


A noite está bela, todos estão se divertindo, até você... No entanto, quando menos se espera surge um ser que poderá mudar a sua vida, para pior. O que fazer? Fugir ou lutar?

A estranha fome!
 Mia Hertz.

23 de Outubro de 1010.

A cada mil anos, mulheres e crianças desaparecem misteriosamente, seguindo um padrão único. Simplesmente seria como se o indivíduo sumisse no ar, encontrei esses mesmos relatos nos documentos da biblioteca da Abadia, muda os séculos, mas a situação é a mesma.
Os pais, os irmãos e os maridos estão desesperados, nenhum deles tem notícias ou pistas do que ocorreu, só sabem afirmar que a última vez que viram as vítimas elas estavam bem e felizes e depois, o eterno silêncio...
 Foram mais de cinqüenta almas, entre mulheres e crianças. Estou orando a Deus que tenhamos notícias delas, muitas dessas mulheres eu mesmo as batizei. O povoado está em polvorosa, entre chocados e atônitos com tudo isso, pois não temos um corpo para contar o que houve realmente, não sabemos se morreram ou foram raptadas.
  O único vestígio dos desaparecidos são as dores e as lágrimas dos que ficaram esquecidos na eterna espera de encontrá-los...
                               Padre Luccas.






Dias atuais:
A noite estava fresca apesar do calor, acompanhada pela sua mãe, Philia adentrou no recinto iluminado e lotado de homens e mulheres bem vestidos.
O burburinho das conversas, os odores dos corpos e dos cigarros empesteavam o ar, no salão o conjunto tocava as músicas de um famoso cantor, enquanto que na pista de dança, alguns casais rodopiavam ao som da melodia, dando uma aparência mais festiva para o evento.
Vagarosamente elas seguiam para o interior do salão, desviando-se das mesas e das pessoas que se amontoavam em grupo debatendo alegremente, rumando para o jardim em busca do quiosque. 
Mãe e filha caminhavam lentamente, a diferença de idades entre ambas era de 17 anos, Philia estava com quarenta e um anos completos, casada e mãe de dois jovens garotos. 
As pessoas que não as conheciam diriam que pareciam irmãs de tão parecidas que eram, tanto nas feições quanto nos trejeitos.

Localizando a mesa a qual iriam ficar, colocaram seus pertences e sua mãe sentou-se.
Entretida em observar aos convidados, a mais nova se encaminhou para o jardim. Estacando no meio dele, ela observou com desprezo a um senhor estranho que possuía barba e cabelos negros, ele estava acompanhado por outros dois homens.
A primeira impressão que ela teve desse homem foi a sua feiúra e o seu jeito estranho, que o fazia destoar do ambiente, lhe parecia um duende feio e mau.

Ignorando ao trio misterioso, Philia deixou de olha-lhos e foi ao encontro da sua mãe com o intuito de comentar a respeito deles, pois ficara encafifada e incomodada com a sensação que o mais idoso lhe provocara.

Questionando-se como em um local onde se tinha tantas pessoas bonitas e agradáveis poderia ter um ser que exalava tanto mal estar e fealdade quanto aquela criatura, ao mesmo tempo pedia perdão a Deus por sua falta de caridade em estar pensando desse modo.
Ao se aproximar da sua mãe, a mesma lhe apresenta ao seu namorado. Surpreendida, atônita e arrependida, Philia ficou ciente que o feioso duende era o atual relacionamento da sua genitora.

Envergonhada e arrependida pelo seu comportamento, procurou aproximar-se do companheiro de sua mãe, tentando ser simpática e solícita, ao mesmo tempo, procurando ignorar os arrepios de pavor que lhe lambiam o corpo ao dirigir-lhe as palavras e a impressão de perigo que lhe apertava o peito.
Sentando-se ao lado do cavalheiro, o mesmo lhe apresenta aos dois outros homens que estavam ao seu lado; ambos eram filhos dele, o que estava a sua direita era alto, forte, possuía traços bonitos, sua face esquerda era toda tatuada, tinha cabelos e olhos pretos, mas o que mais chamava atenção era o seu olhar perverso, louco e maldoso, parecia o demônio em forma de homem.

O da esquerda possuía traços angelicais, mas os seus olhos desmentiam as purezas da sua fisionomia.
Em busca de estabelecer um assunto qualquer e sem assunto, devido a situação a qual se encontra Philia solta essa:
-Puxa! Estas tatuagens devem ter doído para burro! São bonitas, mas eu só fico pensando na dor que você sentiu, pobrezinho! – Se calando ao fitar a criatura que lhe olhava como se fosse lhe causar algum dano.
Temerosa, Philia sentou-se mais próximo ao pai dos homens, estava tão atordoada e com medo, que não conseguira memorizar o nome de ambos ou mesmo prestar atenção na conversa que se desenrolava entre eles.
Ao olhar para o mais velho, sentiu e soube que estava diante de um frio assassino que comia as suas vítimas, sugando toda sua energia em meio a dentadas durante o sexo.

Philia não saberia afirmar de onde essa informação surgiu, mas estava exposta em sua mente, como se fosse um filme nítido.

Tremendo ainda mais, procurava se aproximar do namorado de sua mãe em busca de proteção, pois entre ele e o escuro, preferia ao duende.
Procurando não fixar os olhos no demoníaco ser, conversava frivolidades enquanto contava os minutos esperando por sua mãe.

Foi nesse momento que ela sentiu algo lhe tocar, quando se virou viu o loiro com o púbis roçando no seu quadril.
Neste instante, ela foi invadida por uma imagem: ela conseguia ver através das calças dele, o pênis dele se movimentando, no lugar de um prepúcio o órgão possuía três minúsculos tentáculos denteados, que enterrados em uma vagina, destruiria internamente qualquer mulher, comendo-a internamente.

Apavorada ela lhe pede que se afaste dela e pela primeira vez em sua vida, Philia teve medo de um pênis.
A impressão que ela tinha era que deveria escolher a um dos irmãos, esse sentimento foi tão forte que lhe atormentou.
Atordoada com esse augúrio, ela levanta-se e sai em busca de uma guarida que a proteja desses seres e da loucura de tudo aquilo.

Orando, apressando aos seus passos, atravessa o salão, cega ao festim e às pessoas que inocentemente bebericam, conversam, fumam e flertam; enquanto que no jardim os monstros se preparam para a caçada.

E o pior de tudo isso, que ela era a caça! Saindo apressadamente portas a fora, ela ganha as ruas.
Correndo pelas ruas do condomínio, Philia procura pelo portão de saída, avistando a guarida a cinqüenta metros, diminuindo os seus passos, sente que sua respiração vai normalizando lentamente.
Ao abrir o portão para ganhar a avenida, o seu olhar se depara com o demônio escuro, ele estava de pé fitando-a.

E nesse momento que ela se da conta, que é ele que irá caçá-la e comê-la. No momento, em que ela gritou ao sentir o pênis do demônio louro, ela elegeu ao escuro.
Philia teve a sua boca, tomada pelo gosto ruim de bílis e trêmula de medo, ultraje e horror.

Respirou fundo e prosseguiu em sua desabalada fuga. Foram esses sentimentos que a impulsionaram a correr, apesar do medo e do salto alto que ela usava e que teimavam em querer sair dos seus pés.
Correndo pela alameda, em busca de um taxi que a tirasse de lá e levasse para a segurança do seu lar.

Finalmente conseguirá um utilitário, entrando esbaforida lhe deu as coordenadas, enquanto olhava para trás e via ao escuro se afastar do seu campo de visão.
Abrindo a janela do automóvel, ela lhe envia uma dedada, suspirando de contentamento por se achar livre da ameaça, agradecendo a Deus e a providencial chegada do taxista. Suspirando de felicidade por estar livre e salva!
Chegando ao seu prédio, paga e desce do táxi, dirigi-se para a entrada, tenta digitar a senha do portão errando os códigos consecutivamente, até o que finalmente acerta.

Respirando aliviada, entra, ao se virar para fechar o portão, encontra-o parado olhando fixamente para ela.
Horrorizada, ela fecha o portão e corre para o hall de entrada, ao se voltar, ela vê o portão sendo aberto e ele entrando. Não esperando um segundo a mais, ela fecha a porta do hall, olha os elevadores e todos estão nos andares de cima, correndo para as escadas, sentindo o seu coração descompassado e o corpo trêmulo, ela só pensa em escapar do seu destino.
Galgando os degraus cegamente em busca de salvação, procura naquela selva de concreto um buraco ou um vão a qual possa se esconder, apesar da certeza eminente da derrota a cada segundo que escoa nos degraus das escadas de serviço. Mas, em hipótese alguma iria desistir, iria correr e fugir, lágrimas escorrem pelo seu rosto e os seus soluços ecoam nos vãos das escadas, chorava pelo que perdia e pelo que não teria.
Já perdera a noção de quantos andares ela tinha galgado, quando a sua cintura foi cingida por braços de ferro, debatendo-se compulsivamente Philia tenta se soltar do abraço mortal.

Sentindo o corpo rígido preso a suas costas, o hálito quente em sua orelha; escuta-lhe:
-Peguei-a! Coelhinha! – Ele falou sussurrando em seu ouvido.
Travada e revoltada, ela só pensa na dor em ser devorada viva, falando alopradamente, ela grita para ele:
- Já que eu irei morrer, acredito que pelo menos eu tenho o direito de escolher o modo a qual irei morrer. – Falou Philia ofegante – Me mate antes de você comer o meu corpo!
Dito isso, parou de se mexer e esperou passivamente a reação dele. Ele a virou e olhou para a humana, que transpirava medo e repulsa.

Foi nesse momento de descuido que Ela lhe abocanhou o pescoço rompendo a sua pele e arrancando um naco sangrento de carne, cuspindo em seguida, tomada por ânsias e sentindo os seus intestinos se revolverem de repulsa.
Aturdido pela reação dela, afrouxou-lhe o abraço, sem, no entanto, soltar-lhe. Sendo golpeado por uma saraivada de chutes, ele a trouxe para junto de si e prendeu-lhe.
Irado e surpreso, ele falou palavras desconhecidas que os transportaram a uma gruta escura e úmida. Sendo iluminada apenas por archotes presos na parede.

Tremendo e esperando a reação do escuro, Philia tentava lembrar-se de antigas orações que aprendera quando criança.
Ele a olhou e falou:
-Não adianta rezas ou fazer promessas vazias.  Seu futuro já foi decidido no momento a qual eu lhe deitei os olhos. Dizendo isso ele a prendeu com os grilhões que estavam conectados na parede.
Depois de presa, ela sentou-se no chão, parecendo uma caricatura de boneca desprezada. As horas se passaram, as lágrimas secaram, os temores aumentaram, a revolta cresceu em seu interior enquanto que ele estava sentado em sua frente, olhando-a perdido em seu mundo particular.

Especulando-o, se põem a querer que ele morresse de algum mal súbito e orava que esse fato ocorresse o mais rápido possível, que ele fosse fulminado por um raio, enquanto se questionava: onde estaria Deus neste momento de terror?
Será que ela era tão má? Por que teria que passar por essa provação? O cara era um demente e ainda por cima um demente poderoso, cadê os anjos quando precisamos deles?

Rindo e chorando, ela ruminava esses e outros pensamentos, orando e insultando.
Gritando, Philia lhe questiona:
-Quando você vai me matar? Está esperando o que? Já estou cansada dessa espera, não está vendo que esta expectativa está me matando? Vou acabar morrendo de um colapso nervoso e aí... Acabou o seu mórbido prazer em matar! Fala alguma coisa seu sacana ruim!
Quieto ele estava, calado ele continuou. Depois de um quarto de hora, ele levantou-se e se despiu. Aproximando dela com o seu corpo pesado e seu olhar ausente. Parecia a própria encarnação da morte, crua e silenciosa.
Observando o corpo do seu captor, Philia observou os pesados músculos, os peitos avantajados, a ausência de pêlo, as coxas grossas e o seu pênis avantajado descansando no seu saco escrotal, realmente o maldito tinha um corpo bonito, o que era um desperdício no conceito dela, de que adianta um corpo tão bem formado para um assassino?

Aquele corpo seria bom para um amante ou para um prostituto, mas para um demônio matador era um sacrilégio, um desperdício, pois com certeza nem uma ereção o infeliz conseguiria manter ou mesmo um ato de carinho! Pensando assim ela se encolheu ainda mais.
Mais uns passos, ele já estava junto a ela, levantando-a do chão, colocou-a em pé, retirou cada peça do seu vestuário com cuidado e zelo, desnudando-a pouco a pouco sem pressa, sentindo a pele suave que surgia a cada peça perdida.
Vagarosamente, se aproxima do corpo dela, levantando o seu rosto ao encontro do seu, avizinha os lábios em sua face e passa a língua em suas lágrimas.

Seguindo até a sua boca, onde vagarosamente acaricia-os até que os abra e introduz a sua língua no interior da sua boca, sugando e alisando a língua de Philia, procura incitá-la a corresponder ao beijo, enquanto que suas mãos percorrem sem rumo as curvas rechonchudas dela.
Procurando descobrir os recantos e sentindo a textura morna do corpo da mulher, roçando o seu órgão em sua barriga, se perde no calor da pele dela em busca do seu prazer e do dela, sentindo o calor de vida que exala latente em sua presa e que o envolve docemente, aquecendo o seu corpo frígido.
Erguendo as suas grandes mãos em rumo aos seios dela, os envolvem e os alisam, ora beliscando aos seus mamilos e ora os afagando, enviando ondas de choques que percorrem ao seu corpo, até chegar ao útero dela, convulsionando-a de prazer.
Philia gemendo e amaldiçoando começa a percorrer ao corpo do homem, moldando, acariciando e apertando-o. Tentando se fundir naquele corpo duro e gelado, que proporcionava tanto prazer quanto pavor.

O beijo dele se aprofunda, sua língua imitando o movimento de vai e vem da cópula, o que a faz estremecer ainda mais de prazer, a sua vagina palpita a cada estocada da língua dele.
O ser a levanta e envolve as suas pernas em seus quadris, enquanto que procura introduzir a sua glande na entrada úmida de sua vagina. Aproximando o pênis de sua entrada, ele encaixa e lhe enfia de um só golpe, invadindo-a, enquanto se perde em seus beijos.
Segurando os quadris dela, ele controla os movimentos, entrando e saindo fortemente, cada vez mais rápido.
Trêmula de desejo, engolfada em um turbilhão de prazer, ela contrai a vagina tentando-lhe prender, lhe morder ou mesmo, ordenhá-lo até a sua culminação.

Ele se vê preso entre beijos vorazes e os seus urros de prazer, ao sentir o seu pênis sendo apertado pela vagina molhada e sequiosa de Philia.
Suados, trêmulos e fervendo pelo prazer, os dois se entregam no abraço mortal do orgasmo, urrando e chorando enquanto se beijam.
Com ela em seus braços, ele parte para o fundo da sua guarida, soltando-a em sua cama, ele se deita ao seu lado e lhe abraça, envolvido pelos sentimentos que foram despertados por ela, e sem entendê-los, beija-a e lhe diz:
-Por hoje não irei te comer, pois que eu fui comido por ti. Abraçando-a, tentou dormir, enquanto se perde nas sensações e sentimentos que teve por ela. Pela primeira vez, desde a sua existência, a sua eterna fome foi saciada sem precisar devorá-la e digerir a tenra carne humana.




Conto: Estranha Fome. Mia Hertz. Conto que faz parte da Antologia Beijos e Sombras.