Te vejo a noite...

Te vejo a noite...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Como separar a realidade do horror? Especialmente quando você é a presa de um predador sem limites ou consciência, restando apenas a fugir e quem sabe, poderá ter a sorte de escapar de um futuro terrível....


A noite está bela, todos estão se divertindo, até você... No entanto, quando menos se espera surge um ser que poderá mudar a sua vida, para pior. O que fazer? Fugir ou lutar?

A estranha fome!
 Mia Hertz.

23 de Outubro de 1010.

A cada mil anos, mulheres e crianças desaparecem misteriosamente, seguindo um padrão único. Simplesmente seria como se o indivíduo sumisse no ar, encontrei esses mesmos relatos nos documentos da biblioteca da Abadia, muda os séculos, mas a situação é a mesma.
Os pais, os irmãos e os maridos estão desesperados, nenhum deles tem notícias ou pistas do que ocorreu, só sabem afirmar que a última vez que viram as vítimas elas estavam bem e felizes e depois, o eterno silêncio...
 Foram mais de cinqüenta almas, entre mulheres e crianças. Estou orando a Deus que tenhamos notícias delas, muitas dessas mulheres eu mesmo as batizei. O povoado está em polvorosa, entre chocados e atônitos com tudo isso, pois não temos um corpo para contar o que houve realmente, não sabemos se morreram ou foram raptadas.
  O único vestígio dos desaparecidos são as dores e as lágrimas dos que ficaram esquecidos na eterna espera de encontrá-los...
                               Padre Luccas.






Dias atuais:
A noite estava fresca apesar do calor, acompanhada pela sua mãe, Philia adentrou no recinto iluminado e lotado de homens e mulheres bem vestidos.
O burburinho das conversas, os odores dos corpos e dos cigarros empesteavam o ar, no salão o conjunto tocava as músicas de um famoso cantor, enquanto que na pista de dança, alguns casais rodopiavam ao som da melodia, dando uma aparência mais festiva para o evento.
Vagarosamente elas seguiam para o interior do salão, desviando-se das mesas e das pessoas que se amontoavam em grupo debatendo alegremente, rumando para o jardim em busca do quiosque. 
Mãe e filha caminhavam lentamente, a diferença de idades entre ambas era de 17 anos, Philia estava com quarenta e um anos completos, casada e mãe de dois jovens garotos. 
As pessoas que não as conheciam diriam que pareciam irmãs de tão parecidas que eram, tanto nas feições quanto nos trejeitos.

Localizando a mesa a qual iriam ficar, colocaram seus pertences e sua mãe sentou-se.
Entretida em observar aos convidados, a mais nova se encaminhou para o jardim. Estacando no meio dele, ela observou com desprezo a um senhor estranho que possuía barba e cabelos negros, ele estava acompanhado por outros dois homens.
A primeira impressão que ela teve desse homem foi a sua feiúra e o seu jeito estranho, que o fazia destoar do ambiente, lhe parecia um duende feio e mau.

Ignorando ao trio misterioso, Philia deixou de olha-lhos e foi ao encontro da sua mãe com o intuito de comentar a respeito deles, pois ficara encafifada e incomodada com a sensação que o mais idoso lhe provocara.

Questionando-se como em um local onde se tinha tantas pessoas bonitas e agradáveis poderia ter um ser que exalava tanto mal estar e fealdade quanto aquela criatura, ao mesmo tempo pedia perdão a Deus por sua falta de caridade em estar pensando desse modo.
Ao se aproximar da sua mãe, a mesma lhe apresenta ao seu namorado. Surpreendida, atônita e arrependida, Philia ficou ciente que o feioso duende era o atual relacionamento da sua genitora.

Envergonhada e arrependida pelo seu comportamento, procurou aproximar-se do companheiro de sua mãe, tentando ser simpática e solícita, ao mesmo tempo, procurando ignorar os arrepios de pavor que lhe lambiam o corpo ao dirigir-lhe as palavras e a impressão de perigo que lhe apertava o peito.
Sentando-se ao lado do cavalheiro, o mesmo lhe apresenta aos dois outros homens que estavam ao seu lado; ambos eram filhos dele, o que estava a sua direita era alto, forte, possuía traços bonitos, sua face esquerda era toda tatuada, tinha cabelos e olhos pretos, mas o que mais chamava atenção era o seu olhar perverso, louco e maldoso, parecia o demônio em forma de homem.

O da esquerda possuía traços angelicais, mas os seus olhos desmentiam as purezas da sua fisionomia.
Em busca de estabelecer um assunto qualquer e sem assunto, devido a situação a qual se encontra Philia solta essa:
-Puxa! Estas tatuagens devem ter doído para burro! São bonitas, mas eu só fico pensando na dor que você sentiu, pobrezinho! – Se calando ao fitar a criatura que lhe olhava como se fosse lhe causar algum dano.
Temerosa, Philia sentou-se mais próximo ao pai dos homens, estava tão atordoada e com medo, que não conseguira memorizar o nome de ambos ou mesmo prestar atenção na conversa que se desenrolava entre eles.
Ao olhar para o mais velho, sentiu e soube que estava diante de um frio assassino que comia as suas vítimas, sugando toda sua energia em meio a dentadas durante o sexo.

Philia não saberia afirmar de onde essa informação surgiu, mas estava exposta em sua mente, como se fosse um filme nítido.

Tremendo ainda mais, procurava se aproximar do namorado de sua mãe em busca de proteção, pois entre ele e o escuro, preferia ao duende.
Procurando não fixar os olhos no demoníaco ser, conversava frivolidades enquanto contava os minutos esperando por sua mãe.

Foi nesse momento que ela sentiu algo lhe tocar, quando se virou viu o loiro com o púbis roçando no seu quadril.
Neste instante, ela foi invadida por uma imagem: ela conseguia ver através das calças dele, o pênis dele se movimentando, no lugar de um prepúcio o órgão possuía três minúsculos tentáculos denteados, que enterrados em uma vagina, destruiria internamente qualquer mulher, comendo-a internamente.

Apavorada ela lhe pede que se afaste dela e pela primeira vez em sua vida, Philia teve medo de um pênis.
A impressão que ela tinha era que deveria escolher a um dos irmãos, esse sentimento foi tão forte que lhe atormentou.
Atordoada com esse augúrio, ela levanta-se e sai em busca de uma guarida que a proteja desses seres e da loucura de tudo aquilo.

Orando, apressando aos seus passos, atravessa o salão, cega ao festim e às pessoas que inocentemente bebericam, conversam, fumam e flertam; enquanto que no jardim os monstros se preparam para a caçada.

E o pior de tudo isso, que ela era a caça! Saindo apressadamente portas a fora, ela ganha as ruas.
Correndo pelas ruas do condomínio, Philia procura pelo portão de saída, avistando a guarida a cinqüenta metros, diminuindo os seus passos, sente que sua respiração vai normalizando lentamente.
Ao abrir o portão para ganhar a avenida, o seu olhar se depara com o demônio escuro, ele estava de pé fitando-a.

E nesse momento que ela se da conta, que é ele que irá caçá-la e comê-la. No momento, em que ela gritou ao sentir o pênis do demônio louro, ela elegeu ao escuro.
Philia teve a sua boca, tomada pelo gosto ruim de bílis e trêmula de medo, ultraje e horror.

Respirou fundo e prosseguiu em sua desabalada fuga. Foram esses sentimentos que a impulsionaram a correr, apesar do medo e do salto alto que ela usava e que teimavam em querer sair dos seus pés.
Correndo pela alameda, em busca de um taxi que a tirasse de lá e levasse para a segurança do seu lar.

Finalmente conseguirá um utilitário, entrando esbaforida lhe deu as coordenadas, enquanto olhava para trás e via ao escuro se afastar do seu campo de visão.
Abrindo a janela do automóvel, ela lhe envia uma dedada, suspirando de contentamento por se achar livre da ameaça, agradecendo a Deus e a providencial chegada do taxista. Suspirando de felicidade por estar livre e salva!
Chegando ao seu prédio, paga e desce do táxi, dirigi-se para a entrada, tenta digitar a senha do portão errando os códigos consecutivamente, até o que finalmente acerta.

Respirando aliviada, entra, ao se virar para fechar o portão, encontra-o parado olhando fixamente para ela.
Horrorizada, ela fecha o portão e corre para o hall de entrada, ao se voltar, ela vê o portão sendo aberto e ele entrando. Não esperando um segundo a mais, ela fecha a porta do hall, olha os elevadores e todos estão nos andares de cima, correndo para as escadas, sentindo o seu coração descompassado e o corpo trêmulo, ela só pensa em escapar do seu destino.
Galgando os degraus cegamente em busca de salvação, procura naquela selva de concreto um buraco ou um vão a qual possa se esconder, apesar da certeza eminente da derrota a cada segundo que escoa nos degraus das escadas de serviço. Mas, em hipótese alguma iria desistir, iria correr e fugir, lágrimas escorrem pelo seu rosto e os seus soluços ecoam nos vãos das escadas, chorava pelo que perdia e pelo que não teria.
Já perdera a noção de quantos andares ela tinha galgado, quando a sua cintura foi cingida por braços de ferro, debatendo-se compulsivamente Philia tenta se soltar do abraço mortal.

Sentindo o corpo rígido preso a suas costas, o hálito quente em sua orelha; escuta-lhe:
-Peguei-a! Coelhinha! – Ele falou sussurrando em seu ouvido.
Travada e revoltada, ela só pensa na dor em ser devorada viva, falando alopradamente, ela grita para ele:
- Já que eu irei morrer, acredito que pelo menos eu tenho o direito de escolher o modo a qual irei morrer. – Falou Philia ofegante – Me mate antes de você comer o meu corpo!
Dito isso, parou de se mexer e esperou passivamente a reação dele. Ele a virou e olhou para a humana, que transpirava medo e repulsa.

Foi nesse momento de descuido que Ela lhe abocanhou o pescoço rompendo a sua pele e arrancando um naco sangrento de carne, cuspindo em seguida, tomada por ânsias e sentindo os seus intestinos se revolverem de repulsa.
Aturdido pela reação dela, afrouxou-lhe o abraço, sem, no entanto, soltar-lhe. Sendo golpeado por uma saraivada de chutes, ele a trouxe para junto de si e prendeu-lhe.
Irado e surpreso, ele falou palavras desconhecidas que os transportaram a uma gruta escura e úmida. Sendo iluminada apenas por archotes presos na parede.

Tremendo e esperando a reação do escuro, Philia tentava lembrar-se de antigas orações que aprendera quando criança.
Ele a olhou e falou:
-Não adianta rezas ou fazer promessas vazias.  Seu futuro já foi decidido no momento a qual eu lhe deitei os olhos. Dizendo isso ele a prendeu com os grilhões que estavam conectados na parede.
Depois de presa, ela sentou-se no chão, parecendo uma caricatura de boneca desprezada. As horas se passaram, as lágrimas secaram, os temores aumentaram, a revolta cresceu em seu interior enquanto que ele estava sentado em sua frente, olhando-a perdido em seu mundo particular.

Especulando-o, se põem a querer que ele morresse de algum mal súbito e orava que esse fato ocorresse o mais rápido possível, que ele fosse fulminado por um raio, enquanto se questionava: onde estaria Deus neste momento de terror?
Será que ela era tão má? Por que teria que passar por essa provação? O cara era um demente e ainda por cima um demente poderoso, cadê os anjos quando precisamos deles?

Rindo e chorando, ela ruminava esses e outros pensamentos, orando e insultando.
Gritando, Philia lhe questiona:
-Quando você vai me matar? Está esperando o que? Já estou cansada dessa espera, não está vendo que esta expectativa está me matando? Vou acabar morrendo de um colapso nervoso e aí... Acabou o seu mórbido prazer em matar! Fala alguma coisa seu sacana ruim!
Quieto ele estava, calado ele continuou. Depois de um quarto de hora, ele levantou-se e se despiu. Aproximando dela com o seu corpo pesado e seu olhar ausente. Parecia a própria encarnação da morte, crua e silenciosa.
Observando o corpo do seu captor, Philia observou os pesados músculos, os peitos avantajados, a ausência de pêlo, as coxas grossas e o seu pênis avantajado descansando no seu saco escrotal, realmente o maldito tinha um corpo bonito, o que era um desperdício no conceito dela, de que adianta um corpo tão bem formado para um assassino?

Aquele corpo seria bom para um amante ou para um prostituto, mas para um demônio matador era um sacrilégio, um desperdício, pois com certeza nem uma ereção o infeliz conseguiria manter ou mesmo um ato de carinho! Pensando assim ela se encolheu ainda mais.
Mais uns passos, ele já estava junto a ela, levantando-a do chão, colocou-a em pé, retirou cada peça do seu vestuário com cuidado e zelo, desnudando-a pouco a pouco sem pressa, sentindo a pele suave que surgia a cada peça perdida.
Vagarosamente, se aproxima do corpo dela, levantando o seu rosto ao encontro do seu, avizinha os lábios em sua face e passa a língua em suas lágrimas.

Seguindo até a sua boca, onde vagarosamente acaricia-os até que os abra e introduz a sua língua no interior da sua boca, sugando e alisando a língua de Philia, procura incitá-la a corresponder ao beijo, enquanto que suas mãos percorrem sem rumo as curvas rechonchudas dela.
Procurando descobrir os recantos e sentindo a textura morna do corpo da mulher, roçando o seu órgão em sua barriga, se perde no calor da pele dela em busca do seu prazer e do dela, sentindo o calor de vida que exala latente em sua presa e que o envolve docemente, aquecendo o seu corpo frígido.
Erguendo as suas grandes mãos em rumo aos seios dela, os envolvem e os alisam, ora beliscando aos seus mamilos e ora os afagando, enviando ondas de choques que percorrem ao seu corpo, até chegar ao útero dela, convulsionando-a de prazer.
Philia gemendo e amaldiçoando começa a percorrer ao corpo do homem, moldando, acariciando e apertando-o. Tentando se fundir naquele corpo duro e gelado, que proporcionava tanto prazer quanto pavor.

O beijo dele se aprofunda, sua língua imitando o movimento de vai e vem da cópula, o que a faz estremecer ainda mais de prazer, a sua vagina palpita a cada estocada da língua dele.
O ser a levanta e envolve as suas pernas em seus quadris, enquanto que procura introduzir a sua glande na entrada úmida de sua vagina. Aproximando o pênis de sua entrada, ele encaixa e lhe enfia de um só golpe, invadindo-a, enquanto se perde em seus beijos.
Segurando os quadris dela, ele controla os movimentos, entrando e saindo fortemente, cada vez mais rápido.
Trêmula de desejo, engolfada em um turbilhão de prazer, ela contrai a vagina tentando-lhe prender, lhe morder ou mesmo, ordenhá-lo até a sua culminação.

Ele se vê preso entre beijos vorazes e os seus urros de prazer, ao sentir o seu pênis sendo apertado pela vagina molhada e sequiosa de Philia.
Suados, trêmulos e fervendo pelo prazer, os dois se entregam no abraço mortal do orgasmo, urrando e chorando enquanto se beijam.
Com ela em seus braços, ele parte para o fundo da sua guarida, soltando-a em sua cama, ele se deita ao seu lado e lhe abraça, envolvido pelos sentimentos que foram despertados por ela, e sem entendê-los, beija-a e lhe diz:
-Por hoje não irei te comer, pois que eu fui comido por ti. Abraçando-a, tentou dormir, enquanto se perde nas sensações e sentimentos que teve por ela. Pela primeira vez, desde a sua existência, a sua eterna fome foi saciada sem precisar devorá-la e digerir a tenra carne humana.




Conto: Estranha Fome. Mia Hertz. Conto que faz parte da Antologia Beijos e Sombras.

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