“Está
se aproximando o grande eclipse das luas gêmeas, o terror
e o horror irão caminhar pela terra, triste daquele que estiver fora de sua
guarida, pois a morte vagueia sobre a terra e as criaturas do umbral neste milênio
estão a mil!”
...
“ A portadora da peste, mais uma vez estará liberta e provavelmente Ares estará
se corroendo de ódio”... Medéia, a feiticeira.
Gazeta
de Orion, Decimo oitavo planeta da constelação de Orion.
Ariadne,
a portadora da peste.
Mia
hertz.
No
céu as luas gêmeas do décimo oitavo planeta da Constelação de Orion, se
encontrava alinhadas e com um estranho fulgor vermelho que matizava o mesmo de
carmim, como se o sangue dos inocentes que pereceram neste planetoide ainda
estivesse escorrendo, apesar de fazer tanto tempo do acontecimento.
A
quietude da floresta era quebrada com os uivos e urros dos lobos e bestas que
moravam nelas, os animais e outros seres se encontravam escondidos e temerosos
devido aos miasmas e energias que saiam das fissuras do solo.
Essa
era uma noite atípica, pois a cada mil anos quando ocorria o alinhamento das
luas, nesta noite Plutão permitia que os seres que estavam encarcerados no
Umbral pudessem se plasmar e zanzarem livremente pela crosta.
Era
um acontecimento macabro, pois os seres saiam ensandecidos e atormentados pelos
caminhos, colocando a todos os outros seres em perigo eminente.
Vinganças,
festins e a luxúria ocorriam sem limite, amedrontando e prejudicando aos
incautos inocentes.
As
cancelas estavam finalmente abertas, saindo lentamente pelos portões
enegrecidos uma mulher de tez branca e fluídica caminhava como se estivesse
planando pelo solo.
As
suas longas melenas vermelhas se arrastavam anca abaixo, se movendo como se
tivesse vida própria. Pareciam labaredas de tão rubras que eram incandescentes
e chamativas.
Em
sua mão direita carregava uma lira e dedilhava lentamente testando o som.
Em
seus lábios pairava um sorriso triste e o seu olhar se encontrava perdido no
interior da floresta. Em busca do quê, só ela mesma saberia responder.
A
cada passo vencido deixava atrás de si, rubros botões de rosas, que surgiam de
seus cabelos e rolavam solo abaixo, formando uma via escarlate e sanguinolenta
no arenoso terreno.
Um
espetáculo belíssimo, entretanto muito aterrador, pois das pétalas minúsculas
gotas de sangue pingavam sem parar, em um festim desenfreado que atraia toda
espécie de bestas.
De
sua alva face, lágrimas sanguinolentas escorriam marcando a beleza translucida da
dama e riscando a branca túnica, formando intricados arabescos, jamais visto.
Ariadne,
a portadora da peste estava liberta do Umbral e mais uma vez caminhava pela
terra. Ela nunca fora estimada pelos Deuses, pois sempre fora rebelde e nunca
acatara as ordens que iam contra os seus princípios, e devido a esse
comportamento inusitado, que a sua atual moradia era no mundo dos mortos e dos
seres que penam.
Ela
morrera, porque não acatou a ordem do Deus Ares, quando o mesmo a enviara para
espalhar a peste em um vilarejo que não cultuava ao deus. Ao tomar conhecimento
da desobediência da dama, ele quisera que ela fosse imolada em seu santuário no
decimo quinto planeta de Orion, no entanto, Ariadne fora mais rápida se
suicidara tomando cicuta na ilha de Medéia, a feiticeira e devido ao pecado
dela, ela fora enviada para o umbral e não para o paraíso ou mesmo para o
submundo onde o Deus Plutão é o imperador.
Ariadne,
jamais se arrependera de ter tirado a sua própria vida, a única coisa que ela
ficara triste fora por não ter visto por muito tempo as feições contrariadas de
Ares ao lhe encontrar agonizando no divã.
Fora
doce morrer olhando para ele e saber que com ela iria desaparecer o seu legado,
o dom maldito de espalhar a peste entre os humanos, a pior de todas as doenças,
aquela a qual os seres morrem em meio a pústulas de sangue e pus, onde os seus
órgãos se deterioram em menos de vinte e quatro horas.
Quando
ele a enviara para que disseminasse a doença, ela se negara terminantemente,
pois jamais iria acatar uma ordem tão vil, por isso que preferira morrer, não
esperando pelo verídico dos outros Deuses.
Ares,
ao encontrar Ariadne agonizando foi tomado pela fúria, saiu irado destruindo
pessoalmente ao vilarejo, matando todos os seus habitantes com sua espada.
Ariadne,
enquanto vagueia se perde em sua elucubração...
- Ah!
Como gostaria de poder inocular a cada hipócrita e egoísta Deus dessa
constelação... Seria tão bom!
-
Queria ver a arrogância dos mesmos, vertendo juntamente nas pústulas e nos
órgãos liquefeitos que iriam sair por todos os orifícios. Resmungando baixinho
ela continua em seu percurso.
-Plutão
e os seus presentes de grego, ele faz isso porque ama o caos e a destruição que
os seus seres fazem onde passam. Oh! Ser
sádico!
Perdida
em suas reminiscências e nos seus desabafos, adentra profundamente na floresta,
em busca daquele que outrora amara o centauro Aquian.
Quando
ela caíra em desagrado, todos aqueles que ela amara outrora fora também
destruídos ou banidos.
Aquian
fora transformado em uma estatua de mármore nas profundezas da floresta, se
tornando um eterno guardião do local predileto de ambos.
Ele
se encontrava fitando o horizonte, como se estivesse a sua espera.
A
cada passo dado ela vencia mais a distancia entre ela e do seu amado, olhando
carinhosamente o ser encantado preso no mármore, relembra dos momentos amorosos
que compartilharam e nos projetos que foram discutidos, nos abraços e beijos
trocados entre as risadas e brincadeiras que era realizada entre ambos.
Carinhosamente
ela passa a mão na fria face, enquanto canta todos os seus sentimentos e todos
os seus alentos para ele.
Uma
canção que fala do seu amor, da sua saudade, da sua tristeza, da sua solidão e
da sua dor, mas também da sua esperança de quem sabe um dia, em outro mundo ou
mesmo em outra era, eles possam vivenciar o belo amor deles.
A
cada nota da melodia, o local se torna repleto de luz que envolve a todos os
seres vivos, humanos ou não.
Essa
centelha traz em seu cerne, fluídos que envolvem aos seres proporcionando cura,
bem-estar, saúde e bons sentimentos. O amor plasmado em energia que transforma
a tudo e todos que toca.
A
noite vai se findando, assim como a canção de Ariadne para Aquian.
As
luas gêmeas voltam aos seus respectivos lugares, os seres do umbral retornam
para o umbral e com elas, Ariadne.
Aquian
continua fitando o horizonte na sua eterna espera por Ariadne.
E a
vida continua no decimo oitavo planeta, entretanto com a energia de Ariadne
plasmada e espalhada por todo o ambiente e seres.
No Olimpo, Ares estar a remoer todo o ocorrido
e a desobediência de Ariadne, a única mulher que o desafiara e escapara da sua
fúria.
A
canção de Ariadne:
Em
outros braços,
Procuro
e busco,
O
que tive nos teus,
Porém
a lacuna continua me esmagando.
Em
outros olhos,
Tento
enxergar o lume,
Que
tanto me atrai e atraiu outrora,
No
entanto,
Só a
escuridão se faz presente.
Em
outros seres,
Busco
o teu sorriso,
Porém
só me deparo com o eco das palavras vazias.
Na
ausência da tua presença,
Prefiro
a solidão dos dias e das noites longas,
Que
esmagam ao meu coração,
Do
que a busca desenfreada pelo nada.