Te vejo a noite...

Te vejo a noite...

terça-feira, 15 de março de 2011

Algo a ser pensado a noite...

O último pensador!

Século XXV, em um planeta qualquer, em uma constelação qualquer...
“O mundo é um paraíso, desprovido: de doenças, pestes, calamidades, desgraças e mortes”... Os seres são perfeitos, belos e vivem harmoniosamente e plenamente.
Hoje, somos homens felizes! “Não possuímos as imperfeições ou questionamentos dos nossos antepassados...” Discurso do Imperador: Luiz XVI.

Em uma noite qualquer:

A lua estava em seu ápice, radiante e belíssima.
O mesmo não poderia se falar da minha pessoa, pois escolhera esse dia para pôr um ponto final em minha enfadonha existência.
Andando rumo à praia, observando e admirando a paisagem que ao mesmo tempo me encantava e oprimia ao meu ser.
Estava em uma era a qual não pertencia e em um mundo a qual não se enquadrava, racionalmente ou emocionalmente, me sentia deslocado desse universo tão perfeito, que era tão estático e dogmático.
Cansada e derrotada me encaminho para o meu sacrifício final, dentre tantos a qual já fiz em torno de uma longa existência.
Não vivemos mais oitenta ou noventa anos, vegetamos centenas de anos presos em invólucros de feições rejuvenescidas que parecemos está sempre na casa dos vintes e tantos...
Mera ilusão, pois no interior a alma envelhece de tal modo que tudo e todos passam a serem as mesmas coisas, sem distinções, que horror...
Banalizamos toda uma existência, vivemos em um contexto plastificado suspenso no tempo e no espaço.
Graças a anos de avanço tecnológicos, não adoecemos e consequentemente não morremos, não possuímos as mesmas inquietações que perturbavam aos nossos ancestrais: O temor de morrer!
O mundo se tornou previsível, enfadonho e sem conquistas internas a serem conquistadas. O aprender vem em capsulas que ao serem tomadas são assimiladas e nos apropriamos do conhecimento, sem esforço algum.
O ato de viver, amar e comer perdeu todo o sentido, somos meros casulos sem rumo enfastiado de tanto existir.
Finalmente a praia está próxima, as ondas arrebentam nos rochedos, a luminosidade da lua clareia luxuriosamente o oceano como se o acariciasse. A amante gélida se entregando ao calor da paixão.
Olhando tudo pela ultima vez, abro os braços, respiro pela ultima vez o poluído ar das metrópoles e me lanço no vazio do penhasco, enquanto declamo pela última vez o poema que fiz para ti ser ingrato:
No encanto do canto
Mergulho no recanto
Mais afastado do manto
Sem, no entanto,
Envolver no desencanto que sinto ao vê-lo.
Procuro abraçar e acolher a tão desejada e querida morte, minha amante póstuma.


Conto: Mia Hertz.
Poema: des/encanto – Mia Hertz
15/03/2011

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